Maria Helena Lopes saiu da escola com 11 anos, como era prática na época, após o exame da quarta classe. Com essa idade já ajudava a mãe, pois a família tinha muitos animais de criação, desde vacas, ovelhas, cabras e porcos, de que era necessário cuidar. O seu pai, Joaquim Comprido, era carpinteiro e fazia obras para muitos emigrantes, o que ajudava na economia da casa.

As raparigas da sua idade iam para França e Maria Helena reparava que “tinham uma vida diferente”. Também as suas irmãs já tinham ido para Lisboa servir e só ela tinha, infelizmente, de continuar a ajudar os pais no trabalho do campo. Essa realidade mudou aos 19 anos, quando uma prima que estava na Suíça começou a pedir aos pais para a deixarem ir e estes, finalmente, aceitaram. Estava no ano de 1973 e partiu rumo a Zurique, numa altura em que um franco equivalia a 9 escudos e 50. Para uma jovem que nunca tinha saído da sua aldeia, a viagem foi complicada. A dificuldade de deixar os pais e os irmãos contrastava com a emoção da aventura e a expectativa de melhores condições de vida. A paisagem, com neve por todo o lado e o grande lago, causou um grande impacto inicial.

Maria Helena Lopes começou por trabalhar numa fábrica de transformação de algodão que empregava 180 pessoas e tinha por perto algumas portuguesas. Na época, ficou alojada numa casa de freiras, onde repartia o quarto com mais três raparigas.

Após conhecer o marido, mudou-se e foi trabalhar para a Siemens, onde ficou até nascer a primeira filha, três anos depois. Na altura, muitos emigrantes deixavam os filhos em Portugal, mas Maria Helena não queria, pelo que procurou outro emprego, na Philips. Ao trabalhar alternadamente por turnos, o casal conseguia cuidar da menina. Em 1980, chegaria o segundo filho. As crianças, explica, nasceram e cresceram na Suíça mas em casa falaram sempre Português.

Em 1986, o casal decidiu alargar horizontes e abriu um minimercado com produtos lusos, desde bacalhau, vinho, cerveja e peixe. “Foi um grande salto”, explica.

Quando se reformou, há seis anos, Maria Helena decidiu que era hora de regressar, pois a mãe tinha 95 anos e ainda queria ainda aproveitar algum tempo com ela.