Nascido em novembro de 1960, em Alva, Castro Daire, Manuel Almeida Fernandes mudou-se ainda em pequeno para Souto de Alva, onde cresceu. Às 6 da manhã, antes de ir para a escola, muitas “vezes ainda a dormir, ia dar uma volta ao gado”. Embora os pais achassem que tinha capacidade, ficou-se pela 6ª classe, que frequentou na freguesia.
Em casa havia pouco dinheiro, recorda, salientando que queria contribuir. O seu primeiro trabalho, aos 14 anos, foi a alcatroar a estrada que liga São Pedro do Sul a Castro Daire. Seguiram-se outras tarefas igualmente duras, mas Manuel Fernandes fazia questão de dar sempre metade do que ganhava para ajudar com as despesas da casa dos pais, onde a comida “nunca faltou”.
Após cumprir o serviço militar ainda voltou à resina, mas já com a ideia de emigrar. E assim aconteceu, em 1983, quando foi para a Suíça, de comboio, onde chegou a 29 de abril, tendo no bolso o dinheiro necessário para regressar caso não se desse bem. Na época, conta, os banqueiros iam a bordo já para tratar da papelada para os emigrantes enviarem dinheiro à família.
Após a inspeção médica em Genève, que era obrigatória, ficou a residir nas imediações da cidade de Lucerna, onde começou a trabalhar numa vacaria. No início, a adaptação não foi fácil, pois não sabia a língua e quando não estava a trabalhar só lhe restavam as quatro paredes do sótão da casa dos patrões. Alguns meses depois, o silêncio passou a ser quebrado por um rádio, em que conseguia apanhar a emissora portuguesa e ouvir os relatos da bola.
Em 84, quando volta a Portugal, decide tentar a sorte na construção civil mas, três anos depois, o seu destino viria a ser novamente a emigração.
Outras tarefas se sucederam, mas garante que nunca teve medo do trabalho e que “a qualidade de vida era ótima”. As maiores dificuldades, nota, foram a língua e “o racismo” que os cidadãos locais mostravam. A cada vez que vinha visitar a família a Souto, o coração ficava.
Embora a esposa, que se lhe juntou em 91, se tenha integrado bem, Manuel Fernandes diz que nunca gostou de estar fora do país e que optou por regressar às raízes quando os filhos já estavam criados, em 2017.