Numa época em que a necessidade aguçava o engenho, o porco que se matava nos meses mais frios tinha de render para todo o ano. Ainda assim, garante João Marques, não se passava fome e a carne de suíno ia sendo intercalada com outros animais, como o coelho ou uma galinha velha, e mesmo ovos. Perante os rigores do inverno em casas que não tinham as comodidades de hoje, a lareira e a manta de farrapos asseguravam o conforto possível.
Na sua aldeia, Vila dum Santo – Viseu, a festa religiosa era combinada com uma vertente profana, e rapidamente alguém saltava para cima de uma mesa e tocava acordeão. A música era, aliás, uma constante e marcava também as cascadas do milho, como aqui usa dizer-se, com o realejo a dar o mote.
A esposa, Glória Costa, recorda também este panorama, com sardinha vendida à canastra, o presunto salgado caseiro e o poder marcante do alegre trabalho em comunidade. As jovens tinham uma educação mais rígida, dedicavam-se às danças de roda e aos cantares, enquanto os rapazes jogavam ao pião.
Aos 19 anos, João Marques foi para Lourenço Marques, em Moçambique, onde já estavam o pai e os irmãos. Com o 25 de abril, a família deixou de ter condições para permanecer e regressou à metrópole, em dezembro de 1975.
No mês seguinte, já estava novamente de abalada, desta vez para França. Como tinha passaporte de Moçambique, a sua entrada foi recusada e viria a ser um taxista a intervir e a passá-lo a salto. Até ao casamento, quase dois anos depois, esteve clandestino, só nessa altura regularizando a situação.
O casal viveu em França durante 20 anos “para orientar a vida”, como diz Glória, destacando a oportunidade de alargar horizontes. Permaneceram até 1996, quando o filho chegou aos 17 anos e tinham de decidir ficar ou não.
“Só tenho a dizer bem”, garante João Marques sobre a sua experiência como emigrante.