Filho de emigrantes no Brasil, Avelino Henriques nunca tinha viajado para fora do Rio de Janeiro, mas decidiu fazer o caminho inverso dos seus antepassados e regressar às origens em Alcofra – Vouzela.
Esta é uma história que não é só sua. É um álbum de memórias de toda a família.
O pai tinha seis irmãos e a mãe sete, pelo que, “por maior que fosse a casa, era pequena”. Face às dificuldades, o progenitor tinha o sonho de ir para Angola, mas viria a ser o irmão que tinha no Brasil a enviar-lhe a carta de chamada, tão comum na altura. Tinha 31 anos, era agricultor e embarcou sem nada.
A primeira viagem foi feita de navio-cargueiro, mas quando o seu pai voltou a primeira vez a Portugal, de avião, em 1968, 17 anos depois, o bairro juntou-se todo para assistir. Avelino tinha cinco anos.
Começou por ser empregado, mas tinha uma visão empreendedora. Juntou dinheiro e comprou um terreno, onde trabalhava a terra e produzia diversos produtos que vendia na quitanda em frente. Passou depois para negócios maiores, comprando uma padaria em situação de falência, que reergueu.
Apesar de Portugal se manter um país atrasado 25 anos depois de ter saído, o pai tinha muitas saudades do seu país, ao contrário da mãe, conta Avelino Henriques.
A história da sua esposa, Fátima, tem algumas semelhanças. No seu caso, foi um tio do seu pai, que já estava estabilizado, a fazer a carta de chamada. Mais tarde, o progenitor voltou a Portugal para oficializar o matrimónio e o casal foi junto para o Brasil.
A família restante ficou praticamente em Portugal, mas como Maria de Fátima não tinha vínculos nem raízes, o regresso à aldeia “não foi fácil”, até porque sobravam as saudades da mãe, que, atualmente com 94 anos, ainda vive em terras de Vera Cruz.
O casal avançou com um negócio por conta própria e recorda que sentiu algumas dificuldades, até porque o modo de negociar a que estavam habituados era diferente.
Embora viver em Portugal não estivesse nos planos de Maria de Fátima, voltar para o Brasil, neste momento, não é hipótese. O custo de vida caríssimo e a falta de segurança são algumas das preocupações. Entre ganhar dinheiro e tranquilidade, ganha a vontade de ter paz, assegura.
A filha de ambos tinha 16 meses quando o casal regressou e está prestes a completar 18 anos, que vai completar no Brasil, onde se desloca para batizar o seu primeiro afilhado.