As memórias de Azália Ferreira, residente no lugar do Pereiro, em Mões – Castro Daire, remetem-nos para uma infância no aconchego familiar. Enquanto os pais tratavam as terras, os mais novos brincavam, fazendo bonecas a partir de pedras e de trapos. Porém, conforme foi crescendo, também chegou a responsabilidade de ajudar os pais no campo.
Aos 10 anos, completada a quarta classe, foi trabalhar para a resina, que a ocupou até à maioridade.
Mais tarde, aprendeu a costurar e conheceu o namorado, com o qual viria a casar quando tinha quase 20 anos. Entretanto, nasceram as duas filhas e, quatro anos mais tarde, o casal decide emigrar.
Corria o ano de 1982 quando partiram “atrás de uma vida melhor, de ganhar uns trocaditos para fazer a casa”, tendo como destino a Suíça, onde ficaram até 1994.
O marido foi com contrato de nove meses e Azália com estatuto de turista, tendo, no entanto, começado a trabalhar na vinha. Reunir a família, três anos depois, quando conseguiram o permisso B, foi “o maior gosto que teve”. Chegou, assim, também, a oportunidade de procurar um trabalho melhor, ficando empregada numa fábrica, onde permaneceu o resto do tempo até voltar ao seu país.
“Recordo muitas coisas bonitas mas também muito sacrifício”, nota, exemplificando que, ao início, como não conheciam a língua, iam às compras só ao sábado e “traziam o pão para toda a semana”.
Embora as coisas melhorassem após o primeiro ano, Azália Ferreira nota que, por vezes, havia situações de xenofobia e que era necessária uma vida muito organizada, pelo que só mais tarde se permitiram descobrir mais sobre a região envolvente e as respectivas celebrações.
“O nosso Portugal é tudo. Ser emigrante é deixar o nosso país e ir à procura de melhor, que nem sempre se encontra. Não dá felicidade. É só mesmo para orientar uma vida melhor”, conclui.