Nos tempos de juventude de Alzira Ferreira, de 75 anos, a economia da sua aldeia, Alva, no concelho de Castro Daire, baseava-se no setor primário, com a agricultura e a resina entre as principais atividades. “O pouco que se ganhava era a comer”, recorda, garantindo que o caldo “não faltava”.
Neste contexto rural, a emigração veio abrir novos horizontes, sobretudo para quem tinha o sonho de “fazer uma casinha”.
Foi com este objetivo que Alzira e o marido também partiram à descoberta, tendo vivido 17 anos na região de Nantes, em França. O cunhado foi primeiro, depois a irmã e esta enviou-lhes uma carta com a chamada. O casal – que já tinha uma filha, que ficou aos cuidados dos avós maternos – foi trabalhar para o ramo hortícola, dedicando-se a cortar saladas e a apanhar tomate. “Andávamos pelos carreiros, de joelhos dentro de água”, lembra, falando de um início difícil, em que não tinham qualquer conhecimento da língua francesa.
Aqui permaneceram dois anos. O marido começou, então, a trabalhar nas estradas, abrindo valas para a rede de saneamento, enquanto Alzira Ferreira passou a fazer limpezas. Era um trabalho igualmente duro, que se prolongava “das 7 da manhã às 7 da tarde”.
“A vida de emigrante era difícil” e só a vontade de juntar “algum para fazer uma casita” dava forças para continuar. Ainda assim, só quando conseguiu levar a filha para França o coração desta progenitora teve sossego.
Habituada a trabalhar “no duro”, o regresso a Portugal foi encarado com tranquilidade. Alzira Ferreira voltou ao estrangeiro, mas já só para passear.