O movimento migratório para Lisboa marcou profundamente o mundo rural durante o século 20. Sobretudo até à década de 80, no antagonismo entre o Interior do país estagnado e o dinamismo dos espaços urbanos, estes últimos criaram condições para receber mão-de-obra, enfatizando um Portugal assimétrico.
Deixando para trás a agricultura, milhares eram atraídos pela cidade, sobretudo pela capital, e pela indústria em busca de meios de sobrevivência para a família – quantas vezes numerosa e alargada. No horizonte não deixava de estar, no entanto, o regresso ou, pelo menos, a manutenção de contatos na aldeia.
As fábricas nacionais de sabão, borracha e fósforo, a estiva, a construção civil, as confeções e os armazéns de vinhos acolhiam muito deste êxodo rural, de onde saíam ainda os “Almeidas” (nome pelo qual eram conhecidos os cantoneiros), os aguadeiros, os caixeiros ou os moços de recados. A vida não era, no entanto, fácil, como era apanágio naquela época, e pautava-se pela dureza do trabalho, desde cedo e até noite adentro, e das condições de vida. Surgiram, por esta altura, autênticos bairros de barracas – como foi o caso do Bairro Chinês, em Lisboa –, construídas em madeira e chapas de zinco, sem quaisquer infra-estruturas básicas.
A aspereza das condições era compensada pelas boas relações de vizinhança e pela familiaridade com os conterrâneos.
Este documentário é, assim, uma homenagem à diáspora beirã que evidencia valores como o espírito de sacrifício, os valores da família e a busca por uma vida melhor.
Pelas vozes de Abílio Azevedo, Leonel Ribeiro, Mário Ferreira, José Carneiro, José da Silva, Fátima Silva, Amadeu Pereira, Arnaldo Dias, António Pereira, Joaquim Ferreira, José Silva, Maria Inês Paiva e Maria Trindade Henriques, todos com raízes no concelho de Castro Daire, ficamos a conhecer a realidade de uma época.