Maio é o mês de lançar as sementes à terra. Abrem-se os regos, fazem-se as belgas e é o início de mais um ciclo para o feijão e o cebolo. Em Pendilhe, o trabalho ainda se faz manualmente, até porque a prevalência do minifúndio é um entrave à mecanização, que facilitaria a vida aos agricultores.
O quotidiano na aldeia corre com vagar, as terras ajudam a entreter, mas também foram, noutros tempos, o sustento de muitas famílias, quando os filhos se contavam pelos dedos de duas mãos. É o caso do casal que nos dá o seu testemunho nesta conversa com Manuela Barile e Marcos Medalon. Com 50 anos de casados, criaram duas mãos cheias de filhos e, em dia de festa ou no Natal, sentam à mesa 44 pessoas.
“Quem tem muito filho é muito pobre”, diz-nos a habitante, recordando que, no meio do necessário espírito de sacrifício, ter alguma coisa para viver já era bom. “Nunca pedi a Deus outra coisa que não fosse um bocadinho de pão para lhes dar e um bocadinho de sabão para lavar a roupa”, recorda.
O marido chegou a passar 15 invernos em Lisboa, a trabalhar nas obras, onde ganhava mais para ajudar no sustento da casa. Já o verão era passado na aldeia a trabalhar na agricultura e a tratar dos animais, um setor que, no seu entender, deveria ser mais apoiado pelo Estado.
Em contrapartida, é no campo que se consegue uma vida mais saudável, ar puro, e onde as pessoas são mais amigas, garantem.
É também aqui que se sentem em casa. Até porque, como diziam os antigos, “passarinho que nasce na ucha, para lá puxa”.