O Rancho Folclórico de Carvalhal de Vermilhas foi fundado por um conterrâneo, já falecido, José Ferreira da Costa, mais conhecido por todos como o Ti Zé do Terreiro. Carvalhal de Vermilhas e Vermilhas são duas povoações do concelho de Vouzela, situadas na encosta oeste da serra do caramulo. As suas gentes vivem maioritariamente, ainda hoje, da agricultura e da pastorícia.
O Rancho teve o seu início nos anos 40. Em 1945 fez a sua primeira atuação em Ventosa, aldeia bem próxima de Vouzela. Fora do concelho, atuou, pela primeira vez, na Feira de S. Mateus. Aí o Dr. Pedro Homem de Mello (poeta, professor e folclorista português) afirmou que pouco conhecia do rancho de Carvalhal de Vermilhas mas achava que era um dos melhores do país.
Os homens com a sua camisa de linho, o chapéu de abas largas ou o gorro, as calças e colete de burel; as mulheres usavam as saias de merino, pregueadas, a blusa de linho com a sua renda, o colete de cores garridas e ainda o avental de lã, tecido nas proximidades. A acompanhar a capucha caramulana, indispensável desde os tempos mais remotos, seja em dias de frio e neve ou em dias de calor. Continua a ser usada na serra, durante os afazeres diários e na aldeia para aconchegar o menino ou pura e simplesmente para ir à missa em dias de temporal.
Aos poucos, o Rancho foi perdendo a sua frescura, a sua vivacidade e, durante vários anos, esteve num estado de adormecimento, de letargia. Em 2013, graças à carolice de alguns elementos, decidiu-se reativá-lo. Recomeçou-se com quatro pares e, agora, apresenta-se mais renovado e cheio de vigor e energia. As crianças são o reflexo dessa paixão pelo folclore. O Grupo de Cantares de Carvalhal de Vermilhas surge na sequência do Rancho Folclórico na década de 90 do século passado e, desde logo, começa a participar em todos os encontros promovidos pelo Município de Vouzela.
As Janeiras e o Amentar das Almas são os dois eventos que mais se destacam. Ao longo dos anos, o grupo tem sido solicitado para animar as festas tradicionais e as romarias não só no concelho, como também fora dele. De entre as suas deslocações, destacam-se as seguintes: Casa de Lafões, Tourigo, Castelo Branco, Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul.
O Grupo retrata com fidelidade um passado digno de memória, vivido entre a ceifa e a malha do centeio, a irrigação do milho verdejante, a pastorícia e pretende perpetuar a identidade e a cultura do povo beirão; um povo que se orgulha da aldeia onde nasceu e das suas tradições culturais. O seu vasto reportório contempla não só as cantigas de cariz profano, mas também religioso.
Já se acabaram as malhas
Já se acabaram as malhas na sua aparente simplicidade poética, com apenas quatro quadras de duas estrofes repetidas, revela todo um universo comum às gentes da Beira Alta de até há meio século atrás.
As malhas do centeio constituíam o fim dos trabalhos da primeira fase das colheitas, normalmente por volta de Julho, sendo que antes das vindimas e colheita do milho que ocorriam apenas no final de Setembro, e tendo em conta o excesso de população e a pobreza em que se tornava difícil alimentar as famílias só com aquilo que era produzido localmente, o recurso a imigrações sazonais, os ranchos de “ratinhos” que demandavam o Alentejo ou os ranchos de mulheres para as vindimas no Douro, constituíam uma compensação adicional para as economias familiares.
Curiosa é a referência a ter que “aprender a carda- dor” (aqueles que lavavam e penteavam a lã para a libertar de impurezas e gorduras, preparando-a assim para o tear) o que revela o carácter eclético dos trabalhos sazonais, tudo dependia do que era pedido, sendo que a humildade natural destas gentes e a vontade de ganhar algum dinheiro superavam qualquer limitação técnica.
Já se acabaram as malhas
Já se acabaram as malhas
Que há de ser dos malhadores
Que há-de ser dos malhadores
Têm que ir pr’ó Alentejo
Têm que ir pr’ó Alentejo
Aprender a cardador
Aprender a cardador
Já se acabaram as malhas
Já se acabaram as malhas
Que há de ser dos malhadores
Que há-de ser dos malhadores