Este documento audiovisual retrata uma malha de centeio na aldeia de Campia (município de Vouzela) que decorreu em 25 de agosto de 2018, tendo sido organizada pela Associação Grupo Carnavalesco de Campia em colaboração com a junta de Freguesia de Campia e contado com a animação musical do grupo “Os Vouguinhas”.
A história do centeio nos concelhos de Lafões como o de Vouzela é bastante curiosa. Sendo uma região por excelência de regadio, pela presença abundante de água (o milho e os produtos hortícolas são omnipresentes), aproveita-se desde tempos imemoriais os terrenos mais secos, soalheiros ou em pousio para semear este cereal que não necessita de ser regado, quer para o alimento do gado quer para a confecção do pão de centeio.
A sementeira do centeio ocorre normalmente no final do ano, em novembro/dezembro, a sua colheita é feita no início do Verão e a malha é feita nos meses mais quentes de julho ou agosto, quando o cereal entretanto colhido está bem seco para mais facilmente se soltar o grão.
Normalmente, nestas aldeias existe um espírito comunitário quer na sega quer na malha do centeio, sendo que, por exemplo, uma família que quer malhar chama os “malhadores”, homens da aldeia disponíveis e que recebem em troca uma farta merenda e a promessa de serem ajudados quando necessitarem de algum trabalho (malha, vindima, desfolhada, etc.).
O arranque da malha começa com o chamamento dos malhadores por um membro da família que quer o seu centeio malhado, normalmente com um grito “À eira!” executado num local onde a voz possa ser projetada para toda a aldeia.
O mangual (ou mangualde) é o instrumento que os malhadores usam para bater nas eiradas, os vários molhos de centeio espalhados ao longo da eira. Os homens colocam-se nos dois lados dos molhos de centeio, batendo alternadamente na palha com um ritmo cadenciado. Ao fim de algum tempo, ajeita-se a palha para ser de novo malhado, garantindo que todos o grãos de cereal se soltem. O grão é separado com a ajuda de ancinhos, retirando em primeiro lugar a palha principal e depois com as pás de madeira juntando o cereal, o qual ainda é peneirado com uma ciranda para soltar os restos de palha.
A palha de centeio é depois colocada em medas, grandes cones de cereal deixados na eira ao longo do ano, às vezes protegidos com um plástico na parte superior, garantindo a forma cónica que o centeio interior fique sempre seco para ir dando aos animais à medida das necessidades. No final do trabalho, debaixo de uma carvalha ou de outra árvore folhosa, é servida a merenda que as mulheres entretanto tinham trazido em cestas à cabeça (com rodilhas), consistindo de enchidos, pão, queijo, vinho e outras iguarias regionais.
Registo efetuado em 25 de agosto de 2018 por Liliana Silva. Edição vídeo de Liliana Silva.