António Adrião Henriques nasceu a 26 de Maio de 1943 na aldeia de Campia, concelho de Vouzela. No tempo em que ele ou o seu sogro semeavam o centeio, este era “semeado às margens”, de maneira a que “se viesse muito inverno, que esses mesmos regos levassem as águas fora, para fora da terra”.30
Na sua família, o centeio era semeado sempre por volta do mês de setembro em “terrenos mais secos, mais pobres”. “Se é estrumada a terra quando se semeia, não precisa de mais nada, porque senão o centeio cresce muito e acama”.
Como antigamente não havia máquinas, diz-nos que o centeio era ceifado à foice. Antes do centeio ser malhado, “eram feitas umas medas, mais pequenas. Normalmente são sempre 25 molhos que leva, vinte e dois e três a cobrir, para acabar de secar” até à altura de fazer uma “meda maior”.
A maneira de colocar o centeio para a malha, chama-se uma “canzurrada”. Era na “canzurrada” que eram colocadas as toalhas sempre que era feita uma “piqueta”. Uma “piqueta” era, segundo Adrião Henriques, a sopa feita de vinho e pão trigo num tacho grande, onde “tudo picava dali. Não haviam malgas nem pratos para cada um, cada um picava, comia e bebia do próprio tacho”.
Foi com um sorriso que Adrião Henriques recordou algumas das tradições associadas ao ciclo do centeio em Campia. Uma das tradições que nos falou foi a do “berra à eira” em cima da meda. Por volta das duas ou três horas da tarde era tradição “berrar à eira”, três ou quatro vezes. Quem berrasse primeiro “à eira” tinha direito a um bolo que depois acabava por ser partilhado por todos.
Entrevista a António Adrião Henriques, conduzida por Liliana Silva. Captação de imagem e som por Liliana Silva a 26 de Março de 2019. Editado por Liliana Silva.