Na sua relação com o meio, desde tempos imemoriais que o Homem adaptava os seus movimentos sazonais às condições oro-climáticas da região, por exemplo para alimentar os gados com os pastos frescos e férteis de outras zonas, nomeadamente as montanhosas.
Em Castro Daire, estes itinerários transumantes são determinados pelo clima. No início do verão, chegavam de cotas mais baixas, nomeadamente das faldas da Serra da Estrela e de alguns concelhos do planalto beirão, abrangendo pastores e rebanhos de aldeias dos municípios de Seia, Nelas, Mangualde, Viseu, Tondela, Santa Comba Dão, Carregal do Sal, Oliveira do Hospital, Tábua e até da zona mais a norte de Coimbra. Tendo menos pastagens disponíveis, rumavam ao Rossão, na Serra do Montemuro, onde a paisagem mais verdejante se tornava num importante sustento para o gado caprino e ovino. A acompanhar as manadas que pastam na serra, ficavam os cães de guarda, essenciais para proteger os rebanhos e reduzir os ataques de predadores.
Num sistema de partilha comunitária, aqui permaneceriam os animais e os pastores antes que os rigores do outono ameaçassem instalar-se, simbolizando que, pelo São Bartolomeu, no final do mês de agosto, seria o momento de fazer o percurso inverso, descendente.
Numa viagem pelos usos e costumes do povo castrense, estas antigas vias pecuárias representam um valioso património histórico-cultural, com trilhos repletos de memórias e estórias. Esta foi uma realidade muito marcante na região e que teve o seu expoente máximo até aos anos 70 do século passado, altura em que os pastos foram afetados pelas alterações implementadas nos territórios serranos.
A recriação, promovida pelo Município de Castro Daire, foi registada pela Binaural Nodar, nos dias 6 e 7 de julho de 2024, enquadrado nos projetos “Memória Sobre Rodas” e Europa Criativa Tramontana IV, cofinanciado pela União Europeia.