Silvia Zayas – Vozes de Cá
Um filme de Silvia Zayas no âmbito do seu projecto “Tríptico 00” para o Simpósio “Nodar Pushing the Medium #2” realizado pela Binaural na aldeia de Nodar, S. Pedro do Sul em Setembro de 2006. O documentário “Vozes de Cá” nasceu de forma espontânea. O que se suponha seria um trabalho auxiliar ao projecto artístico realizado em Setembro de 2006 pela artista espanhola Silvia Zayas durante o simpósio “Nodar Pushing the Medium #2”, acabou por se transformar numa obra em si mesma. Este documentário assume um interesse particular pelo facto de nele participarem todos os habitantes de Nodar, os quais relatam impressões, memórias e histórias da sua aldeia, quer actuais quer passadas. “Vozes de Cá” não pretendeu ser um trabalho de cariz antropológico, mas sim um retrato poético de um instante da vida de uma aldeia.
Silvia Zayas (Espanha) nascida em León (Espanha). Jovem poetisa (quer escrita, quer visual / sonora), tradutora de poesia e artista performativa (dança e teatro). Publicou já alguns livros de poesia como “Autonocturnidad” e “Somos Estacionarios” e alguns dos seus poemas foram incluídos em antologias de poesia e revistas literárias (Espanha, Portugal, Israel). Nos anos recentes concebeu e dirigiu diversas performances teatrais (algumas baseadas nos seus próprios textos) como “Se me Alarga la Danza”, “El Mientras del Teatro”, “Chovernos” e “análisiS O Secuencias”. Sílvia participou ainda em acções performativas de rua ligadas à Amnistia Internacional e a movimentos anti-globalização e é uma das coordenadoras do projecto de rádio experimental “Radio Tutuguri”.
José Ferreiro
01:19 [Mocidade] [Terras] O que me custou mais da minha mocidade foi andar a fazer terras de renda. Colher para dois, hoje parte dessas terras são minhas. Já dei aos filhos, já são dos filhos (…)
01:48 [Carros de Vacas] (…) passavam carros de vacas e pagavam 8 escudos., para cada lado. Sempre que eram carros de vacas, fazia barulho e estremecia muito. E então era isso.
02:08 [Ponte] Depois mudou, depois a câmara veio botar a mão a isto, a ponte não estava assim, pegou nos guardas da ponte levou-os lá para onde entenderam, pôs gradeamento em ferro em todo o lado e a ponte ficou livre para todos.
02:28 [Ponte] É uma coisa boa, foi bom para todos.
02:34 [Lobo] [Incêndio] Ouvia-se os lobos a uivar de noite, hoje já não se ouve porque o lume acabou com isto tudo. Só se eles tornarem a vir.
02:46 [Festa de Parada] (…) de Parada para cá e de cá para lá. Era uma festa, era era, a malta toda junta, os bailes que se faziam antes eram engraçados. Alguna não levavam respeito e levavam barulho, era chatice. Quando há respeito pela música ou um rancho qualquer que está a fazer um arraial bonito, vai estragar a música porquê? Só por estupidez não é? Mais um carro que vem aí, vem devagar pá! É um da França que vai aqui.
Piedade
03:26 [Canção] Já cantei uma cantiga e com esta já são duas, agora não canto mais sem ouvir uma das tuas.
03:36 [Canção] E depois dizia o outro de lá, houve lá uma cantadeira tudo é o que Deus quer, agora não digo o resto (…) isto é a minha mãe (…)
03:52 [Canção] Mas tu cantaste uma cantiga tão bonita lá. Cantaste uma cantiga lá toda esganiçada. (…)
04:00 [Canção] Eu até deitava a voz mais (…)
04:02 [Canção] Era, era, era…
04:07 [Canção] Era assim, ao passar a ribeirinha escorreguei e molhei a meia.
04:12 [Canção] Canta, é cantar não é falar, já pareces os brasileiros.
04:17 [Canção] Ao passar a ribeirinha escorreguei e molhei a meia….
04:30 [Namoro] [Casamento] Namorei na minha terra fui casar à terra alheia ….
04:43 [Namoro] [Casamento] E foi verdade, namorei na minha terra fui casar à terra alheia, é do mesmo conselho mas não é da mesma freguesia. Sou da freguesia de Covas do Rio, conselho de São Pedro do Sul, distrito de Viseu.
05:04 [Linho] Lá tinhamos as massarocas fiadas, ao lado punhamos um cestinho, cada uma punha as massarocas no seu cesto. No outro dia com o gado lá iamos com a roca e o linho para fiar. Depois atascar o linho, Massar o linho era no ?, massar, depois eu vim para aqui, para Nodar, quando vim para cá até tinha vergonha porque eu não sabia massar linho. Eles cá massavam o linho com a massadeira, a bater ali, a massadeira com a massa. O meu marido dava jeito a massar e eu não e eu tinha vergonha.
05:53 [Lavar] Agora é muito melhor. Para lavar loiça, lavar roupa, há quem tenha máquinhas.
05:58 [Lavar roupa] [Rio] Naquele tempo iamos para a beira do rio, lavar no rio. Era aquelas raparigas, a cantar todas no rio, agora até é proibido lavar no rio, mas era um tempo bonito quando a gente é novas.
06:18 [Lavar Roupa] Juntavamo-nos todas com o alguidar da roupa e cantavamos aquelas cantigas a lavar a roupa.
06:23 [Lavar Roupa] E já não te lembras?
06:26 [Lavar Roupa] [Idade] Era bonito, e agora, agora passou-se, agora tenho oitenta e tal.
06:37 [Idade] Tens oitenta! Cala-te!
06:37 [Idade] Para o mês que vem faço oitenta e um.
06:38 [Idade] Não interessa mas ainda não fez, tem oitenta.
Nazaré
06:47 [Recordações] [Som] Era o som do tiruliru que nós chamavamos na altura, que era o sujeito que vinha arranjar as peças de louça que se partiam durante o ano, punha-lhe uns agrafos. Tinha uma melodia própria numa gaita e então chamavamos-lhe o tiruliru.
07:07 [Som] [Helicóptero] Quando vinha esse sujeito era uma festa para nós crianças. Porque se via só uma vez por ano e era diferente. Ouve uma outra altura em que um helicóptero sobrevoou a aldeia, e foi engraçado porque os pais e os avós pensavam que era a guerra que tinha rebentado, sei lá. Nós a querer ver e eles a puxarem-nos com medo que fosse de fato a guerra.
07:36 [Sons] [Cuco] Quando era garota os sons que se ouviam, que ainda se ouvem hoje mas muito menos, era o pássaro, o cuco, ainda é, não é. Por volta de Abril, Maio ele vinha, regressava todos os anos, e então nós perguntávamos, “Cuco de maio, cuco do Outeiro, quantos anos me dás solteiro?”
07:59 [Cuco] Consoante as vezes que ele cantasse era os anos que nós ficariamos solteiros para casar. Então aquilo era uma maravilho, quando é que o cuco contava mais anos para casar primeiro.
08:14 [Brincadeiras] [Infância] [Pesca] [Peixe] As brincadeiras cá, portanto de criança, minha principalmente e de outros da minha idade, era a pesca à mão, portanto, agora diz que é lapiar debaixo das pedras, lembro-me do primeiro peixe que apanhei que para a minha mão era enorme mas acho que era muito pequenino, e eu apertei-o tanto para não fugir que lhe saltaram os olhos, coitadinho do peixe.
08:37 [Pesca] Na altura foi um feito heróico, porque eu nunca tinha apanhado nenhum, devia ter uns 5 anos, talvez, ou seis.
Wellington
08:52 [Infância] [Brincadeira] (…) brincadeira de infância, nós iamos lá para cima para a casa do ? e fazíamos cabanas com ramos de pinheiro e assim, fazíamos uma cabaninha encostada a um muro e metíamo-nos lá em baixo na brincadeira. Simplestmente para passarmos lá a tarde à sombra e estarmos lá sossegados.
09:19 [Infância] [Brincadeira] [Rio] Uma vez começou a chover e a cair água lá para dentro e nós tivemos que ir para casa, é normal, é isso, as nossas brincadeiras, tinhamos outras brincadeiras, iamos para o rio e atirava-mos pedras para ver quem fazia chapinhas na água, Punhamo-nos lá a brincar e a ver quem faza mais.
09:39 [Fogo] Das histórias daqui posso falar da história do fogo, da história do fogo que tive cá, foi há pouco tempo que vivi esse momento, estava deitado na cama quando tudo começou, vieram-me cá chamar, até foi o Fernando que chegou aqui, e disse : Leco, vá, veste-te e sai de casa.
10:05 [Fogo] [Helicóptero] Eu não fazia ideia do que era, levantei-me vesti-me e fui lá para fora. Chego lá fora estava já toda a gente um bocado exaltada, porque já tinha começado o fogo ao pé da minha casa, aqui num campo mesmo ao pé. Quando saio de casa vejo logo o helicóptero a apagar o fogo aqui mesmo aqui. Aí deu para perceber o que era, depois fui ali para baixo para o coreto e começou o fogo ali também.
10:27 [Incêndio] Impressionante era o vento que fazia nesse dia e como o céu estava vermelho. Era tudo assim muito estranho, nunca tinha visto uma coisa dessas e aparece assim de repente. Tinha acabado de acordar e fomo para ali. Estavam lá as senhoras mais idosas. Há ali uma senhora de cima que é a Tia Felismina, que veio lá para o pé de mim e já estava em pânico, já estava a berrar.
10:47 [Incêndio] Ahh!!Não sei quê. Ahhh!! Não sei que mais. Eu depois acalmei-a e disse que não havia problema e não sei quê mas depois, o fogo começou-se a alastrar e de repente começou a ver de vários pontos relativamente à aldeia, começou a vir de todos os lados, de todos os lados. Depois começamos a molhar as casas, fui para ali molhar os carros com uma mangueira, molhar por cima dos telhados, molhar tudo né?
11:11 [Incêndio] [Bombeiros] Depois começaram a aparecer os bombeiros e começaram a evacuar-nos para a beira do rio. Fomos todos, levamos as pessoas idosas primeiro. A primeira coisa que eu fiz foi ir ao café buscar garrafas de água porque o fumo era impressionante e o vento que levantava. Ajudámos as pessoas a ir para a beira do rio, levamos-lhes que beber porque estavam cheios de sede.
11:30 [Incêndio] E depois evacuaram-as daqui para fora. Nesse dia acabei por ficar, o fogo começou a amainar, a ficar não tão forte, e ajudámos as pessoas a apagar ao pé da casa delas, a casa do Mário estava ali em cima, ajudámos a apagar à volta da aldeia, houve muita gente ali em baixo, o Fernando e o Carlitos andaram a apagar à beira do rio com as bombas, a bomba nesse dia nem queria funcionar, a bomba de água. Coitados eles tavam mesmo mal.
11:59 [Incêndio] Portanto foi um dia muito triste porque além de olharmos para a nossa volta e vermos tudo a arder porque estava tudo queimado, e nos meses seguintes foi mesmo muito mal porque eu olhava para lá e eu mesmo dizia como é que eu vou olhar lá para fora? Porque aquilo estava tudo queimado e olhavamos para o que tinhamos visto mais antigamente, há uns dias atrás tudo verde, e agora acordava de manhã e olhava a janela e via tudo queimado, muito mau mesmo.
12:32 [Cinza] [Incêndio] E além disso a quantidade de cinza que estava cá dentro de casa, que nem sei como é que entrou mas estava tudo cheio de cinza. E pronto e aquilo é muito chato. E depois pronto, tivemos cuidado e com o tempo tudo passou, continuamos a nossa vida e agora isto já está a ficar tudo bem outra vez. É assim…
13:00 [Recordações] [Sons] Realtivamente aos sons que eu me lembre, porque eu não era de cá, vim para cá mais tarde, estou cá há oito anos.Os sons que me lembre quando estava ali no meu quarto, por exemplo o som das corujas à noite, dos próprios grilos que faziam um barulho engraçado quando estavamos na cama, os pássaros, o som dos pássaros, e às tantas da noite o senhor Fernadito a vir com o carro debaixo da minha janela (…) falar mais baixo.
13:30 [Rio] [Rãs] [Peixes] [Sons] Já ali no rio, temos o barulho das rãs, as próprias rãs fazem aquele barulho engraçado, por vezes vemos os peixes a saltar e ouvimos o barulho que fazem a saltar da água. Aquele splash! Aquela coisinha engraçada. Muitos sons, os sons dos animais, das cabras, das ovelhas, as vacas, tudo o que nos rodeia e está inserido na nossa aldeia.
Fernando
13:54 [Café] [Peixeiro] Sou dono de um café que há aqui em Nodar, e trabalho lá, só tem pessoal de verão, Junho, Julho e Agosto é que tem algum pessoal. De inverno não tem ninguém porque o rio ? .O verão acaba a praia e acaba o café. Não há peixeiro, não há peixe, vem a peixeira duas vezes por semana.
14:21 [Pão] [Supermercados] Pão, todos os dias, missa uma vez por mês. Fruta, uma vez por semana, supermercados, só em Parada ou em Sequeiros.
15:43 [Xisto] Isto é xisto, um cinzeiro, também faço casas, miniaturas, moinhos, também pequeninos. Tudo isso, tudo dá dinheiro, aquelas pedras dá dinheiro.
Ai que rico peixinho!
16:16 [Sardinhas] (…) quem trabalha, quem não faz nada espera, (…) congelando umas sardinhas elas chegam a Lisboa bem. Congeladinhas elas são fresquinhas. Mas hoje ainda não. Quando é que vai embora? Lá mais para “Outembro”Novembro.
António e Emília
16:44 [Pesca] [Memória] Derivado à pesca, fomos uma companhia de pescadores à pesca, e mandávamos vender o peixe a Alvarenga. O portador foi e não voltou, embebedou-se. nós ali cheínhos de fome, não nos valiamos de mais nada, subimos a um camo de milho, apanhar nabiças para cozer e fazer um caldo de nabiças. Só com sal.
17:24 [Memória] [Pescadores] E assim foi, entretanto o homem veio, com uma bebedeira danada. Veio-nos trazer o pão, não trouxe, na pior ficámos. Esganadinhos até ao outro dia. E assim passámos, pescávamos para vendr, para fazer vida da pesca.
17:58 [Pescadores] Aqui havia muitos, eu não sou de cá, eu sou residente cá mas não sou de cá. Mas cá havia muito, profissionais é que não, profissionais fui só eu. Depois que vim para cá.
18:22 [Banda] [Clarinete] Fui elemento da banda musical de Reriz muito ano. E iamos fazer as festas por esse mundo fora, mas já há vários anos. Clarinete, era clarinete.
18:55 Você então anda aí há já muito tempo.
Paulo
19:23 [Nodar] [Lisboa] [Terras] [Pesca] Nasci cá. Fora aqui da aldeia. Estive em Lisboa mas não gostei, mesmo do próprio trabalho. Gosto do trabalho das terras e da pesca.
19:50 [Pesca] Costumas pescar então. Costumo, até morrer. Só morrendo.
20:05 [Terra] E trabalhas na terra também?
20:06 [Agricultura] [Terras] Trabalho na agricultura. Também trabalho na agricultura.
20:15 [Memórias] [Sons] Alguma coisa de que te lembres de quando eras mais pequeno?Alguns sons que se ouviam que já não se ouçam? Coisas da natureza.
20:35 [Lavoura] [Escola] Da lavoura, passei momentos difíceis a guardar as vacas a chover. Elas saltavam os meus pais batiam-nos, era mehor que estar aí. Era com cada tareia que apanhava. O tempo de escola em miúdo a pé daqui para Sequeiros a chover. Quando era novos, 7, 8 anos até aos 10.
21:15 [Inverno] De inverno fazíamos 3 km a pé, quer chuva quer neve, um homem tinha que ir para a escola. E é assim.
Carlos
21:29 [Lisboa] [Nodar] [Mulher] Nascido e criado até por volta dos 15 anos, nessa altura fui para Lisboa procurar a minha independência, desde lá trabalhei alguns anos, conheci a minha mulher, casámos lá, decidimos vir novamente para Nodar porque é a minha paixão, é a minha terra, foi cá que eu nasci, é aqui o meu viver, é aqui que hei-de acabar os meus dias. Se Deus me permitir claro.
22:10 [Rio] [Nodar] Uma das coisas que me fascina mais aqui em Nodar é a paz, a calma, o rio, que é uma das minhas paixões uma vez que o meu pai já foi pescador, eu assim continuei embora não tanto como ele mas de uma certa forma também com alguma experiência.
22:37 [Filhos] Depois então tive dois filhos, tenho dois filhos, um pequenino, outro maiorzinho. A partir de aí tento viver a minha vida aqui na aldeia o melhor possível, pronto.. a melhor forma de viver.
22:57 [Recordação de Infância] O mais que posso dizer, uma história que me recordo bastante é quando era pequeno, quando era pequeno, o meu pai era caseiro, e fazia terras de uma senhora que era Maria do Carmo. E então uma das alturas é uma história que me marca um pouco, que era eu do tamanho do meu filho mais velho ou um pouco maior, e então fomos apanhar um carro de canas de milho, de palha de milho, e então vinha por cima do carro, como era pequeno o meu pai deixou-me subir para cima de um carro,
23:36[Recordação de Infância] O caminho era um pouco ingrime e aquilo deu um solavanco e caí do carro abaixo, e fiquei entre a roda do carro e a parede, os meus irmãos ficaram muito aflitos, começaram a gritar, ó pai pára, ó pai pára, o Carlos caiu, o Carlos caiu e arranjamos uma solução, saí praticamente ileso sem ferimentos alguns. Foi uma história que me marcou muito e hei-de viver com essa recordação até aos fins da minha vida.
24:15 [Sons de animais] Outra coisa que me lembro perfeitamente e ainda hoje isso existe aqui, um dos sons que me marca muito é quando os gatos andam em fase de acasalamento, e então fazem grandes distúrbios aí, grandes algazarras, de noite, principalmente de noite, e é um dos sons que mew marca bastante, entre outros, a chegada do cuco, da rola, na época, o acasalamento dos animais que são os sons mais fortes. Um dos sons que a gente ouve bastante é o guinchar das lontras do rio, durante a noite uma vez que a minha casa fica de frente para o rio. O guinchar das lontras, o latir das raposas do outro lado do monte que é ali o Alto da Volta, várias coisas. São sons que marcam a minha infância para trás e continuam hoje porque ainda esses seres vivos existem, e eu também existo, sou um ser vivo tal e qual como eles.
Odete e Rafael
25:31 [Apresentação]Eu não sou de cá, nasci em Angola mas vivi em Lisboa. Casei com um rapaz que nasceu cá em Nodar. Casámos em Lisboa, vivemos em Lisboa mas fartámo-nos da cidade e viemos viver para Nodar. Gosto muito, a primeira vez que vim cá, adorei isto, adorei Nodar, não volto para Lisboa, nem para lado nenhum, já vivemos na Suiça, voltámos, e isto é espetacular. Pelas pessoas, pelo ambiente, estas serras, tudo, o rio que é um espetáculo, sobretudo de verão, já cá estou vai fazer onze anos para o final de Setembro.
26:13 [Filhos] [Nodar] Já nasceram cá dois filhotes, e cá pretendo viver até ao fim. Adoro isto, seja de Inverno, Verão, Primavera, Outono, adoro. Em breve vou ter uma casinha aqui, vou construir com o meu marido e pretendo cá viver a minha velhice. Adoro isto, os sons, o som do rio principalmente no Inverno que é espetacular. E mesmo os miúdos que gostam de vir para a ponte, começam a ver aquela água toda, aquela coisa. Pronto, isto é espetacular.
26:56 E mais sons?
26:57 [Trovoadas] Os sons da trovoadas.
27:00 Ouvi dizer que é muito mais que na cidade.
27:01 [Trovoadas] Aqui são muito mais fortes, são espetaculares, são diferentes. Ele vem de propósito para a janela para ver porque é diferente, principlamente com o rio. A trovoada e as faíscas… pronto…é melhor. É mais forte, eu adoro isto.
27:27 [Boguinhas] [Paraíso] [Animais] [Fogo] Há as boguinhas, a gente também adora as boguinhas. Há lontras, isto aqui é um paraíso, para mim é um paraíso. Há lontras, há aquelas aves… as garças, porque procriam aqui, fazem os ninhos, é tudo muito giro, há as águias, os coelhinhos, é pena ter havido este fogo muito grande, infelizmente na altura estava grávida, apanhámos um grande susto, mas já passou, isto agora vai ficar bonito de novo mas ficou muito triste, muito .. uma escuridão imenso quando isto queimou mas agora daqui a uns anos isto já vai ficar melhor, Deus queira que não aconteça mais porque foi um susto muito grande que apanhámos.
28:11 Que não façam mais destas coisas porque a natureza é espetacular. Sobretudo aqui, este cantinho de lugar que é maravilhoso.
Ruben
28:22 [Fogo] No ano passado, houve um grande fogo. Quando eu acordei estava tudo em chamas. Depois a minha mãe começou a chamar o meu pai, a minha mãe ouviu o eco e o eco chamou todos para o helicoptero. Depois fomos para Parada, o fogo de Nodar foi para Parada e depois foi para Ester e foi para tudo, foi para toda a aldeia. Depois quando o fogo já ia lá ao fundo, fomos todos para Nodar, e estava tudo queimado.
29:27 [Fogo] Depois o fogo esteve ao pé de uma casa que morava lá uma senhora … chamava-se Donzília, depois o fogo foi para ao pé da casa dela porque a casa dela era no monte. Depois um irmão de um amigo meu desmaiou no chão e ficaram lá pessoas em Nodar, ficou o meu pai, O Tio Fernando, a Donzília, o Daniel, a Fernanda, o Fernandinho, o Tino, a Bobina…
30:29 os animais, a ver o barulho dos aviões, os pássaros, ouvir o rio.
Marieta
30:43 [Diversões] [Bailes] Não não tinhamos nada de diversão, a nossa única diversão eram os bailaricos à noite, ao som da harmónica, do violino, da flauta, que era tocado pelos senhores de cá. E nós dançavamos na rua, na casa, conforme, com a luz do Gasómetro, que era de carboneto, porque não havia luz elétrica.
31:15 [Festas] E então era a nossa discoteca, que naquele tempo não havia, e assim sucesivamente. Namoriscar era só quando os nossos pais deixavam. Iamos para as festas mas acompanhadas dos pais, não sozinhas. E aí a gente fazia aquilo que podia.
31:34 [Rádio] [Eletricidade] Nós tinhamos o rádio, naquele tempo era a única coisa que tínhamos. O rádio era tocado com pilhas porque não havia luz elétrica. E já era muito bom aqueles que tinham o rádio porque havia muitos que não tinham. Hoje, temos as televisões, temos tudo, depois que veio a luz. Mas naquele tempo não tinhamos, as pessoas juntavam-se a fazer o seu serão à noite.
32:06 [Linho] [Serão] As mulheres fiavam na roca o linho, eu já era um bocadinho mais moderna já fazia o meu crochet, à luz do gasómetro ou à luz do petróleo, e os homens jogavam às cartas e assim faziamos o nosso serão à lareira, no Inverno. No verão era na rua, juntavam-se as pessoas, conversavam, contavam histórias, divertiam-se assim. Hoje não há nada disso porque há a televisão que nos tira a atenção toda. Temos que estar com atenção à televisão para ver o que se passar se não não sabemos.
32:46 [Antigamente] Naquele tempo não, não havia nada, por isso havia mais comunicação das pessoas umas com as outras. Hoje acho que não há esse convívio. É isso a diferença.
Ilda
33:01 [Lobos] Os lobos a uivarem.
33:04 Agora já não?
33:05 [Lobos] Agora não se vêem, se se vêem é muito pouco. Antigamente havia uma povoação onde a minha irmã era lá regente onde se ouvia os lobos toda a noite a uivar. Vinham aos currais dos gado que estavão fechados e depois uivavam, ouvia-se nessa terra onde uma irmã minha esteve, eu estive lá uma noite e ouvia-os.
33:39 [Almas do outro mundo] Almas do outro mundo. Não pode ser, que é falar sem ter nada, isso é almas do outro mundo, diziam as pessoas muito admiradas, admiravam-se muito, que era almas do outro mundo.
34:10 Vou pôr o lenço que é à moda antiga.
34:56 Ainda não chegou aqui, pode chegar um dia, chegou aos coelhos mas aos coelhos não é há muito tempo.
35:08 [Terras] [Emigração] Elas foram embora porque cá não ganhavam dinheiro. Hoje as terras não rendem nada, vem tudo de fora, é mais barato, então foram embora para arranjar mais dinheiro. Emigrou, estão a emigrar todos, uns iam para o Brasil, antigamente, outros para Lisboa, e agora para as outras nações, para a Suiça, França, Alemanha, anda para lá a mocidade toda. Antes era difícil, para ir para o Brasil passavam martírios para passar para lá. Era difícil sair, ficava cá tudo, e alguns iam e não voltavam cá mais.
35:50 [Jovens] [Emigração] Agora cá são só os velhos, os velhos fazem alguma coisa porque os novos não, andam nas obras, outros abalaram e os que cá estão andam nas obras. E as raparigas andam a abalar todas, para Lisboa, para onde calhar. Em Sequeiros também há poucas, na minha terra, antes era uma população tão grande… abalou tudo, emigrou tudo, só os mais velhotes… Naquele tempo …eu gostava… agora dizem assim e assado mas eu gostava mais de antigamente, da alegria.
36:27 Porquê?
36:28 [Alegria] [Comadres e Compadres] [Carnaval] Não sei havia muita gente e havia alegria. Andávamos na brincadeira uns com os outros, agora não há nada, os compadres… as raparigas faziam… e depois os rapazes tiravam. Elas todas juntas a tiraram uns aos outros, e dias de comadres, iam passear com ela a cavalo, correu tudo a a cavalo. Era assim, igual no Carnaval, agora não, não se vê fazer nada disso. Agora não há nada, não se vê fazer nada. Agora há só os velhitos tristes coitados doentes. E jovens não há ninguem. Depois adoecem e espetam com eles nos lares. Antigamente não, olhavam por eles em casa. Estive com a minha mãe cinco anos, caiu partiu uma perna e esteve cinco anos em casa.
Martinha
Albano
37:48 [Trabalho] [Tropa] Quando era novo andava na madeira, com o carro das vacas, levantava-me à meia noite para passar solipas para a Paiva. Depois fui para a tropa em 47. Depois saí da tropa, tirei lá a carta, andei com um automóvel, três anos em Sete Fontes. Depois em 52 fui para a camionete da Sardinha andei lá três anos. Sardinheiros de Alvarenga, carregar as Matosinhos, vir para cima, levantar-me às 3 horas e às vezes em jejum até às 4 da tarde.
38:36 [Lisboa] [Regresso] Em 56 fui para Lisboa, estive lá 7 anos, depois vim em 63 e agarrei-me às terras. Tive aí carro de praça de 66 a 69, parti a rótula do joelho e tive que vender. Havia aí um chauffeur, deixou-me dívidas, no carro, fez 30 e tal mil km no carro deixou-me dívidas. Agora entreguei ao filho.
39:33 [Instrumentos] Isto é um sarilho, de levar as meadas, isto é uma dubadoira do linho, para pôr em novelo… estão podres. Depois andava à volta e uma pessoa a dubar o novelo.
40:31 É o crivo para descrivar milho.
40:45 É a chuva que se está a ouvir agora
Laurinda
40:55 [Trabalho] [Marido] Trabalhava nas terras, trabalhei quando era rapariga solteira é que trabalhie, e no volfrâmio, como já contei, no volfrâmio, no carvão e nas terras, foi onde trabalhei, nunca fui para Lisboa. Andou lá o meu marido mas eu nunca lá andei, tive que cá estar. O meu arido andou lá em Lisboa, foi lá criado, e depois está claro, era sozinho de filhos e eu tive que cá ficar a cuidar do pai e da mãe, fiquei com o pai e a mãe. Como você ficou cá mais a … Jesus nossa senhora!
41:42 [Pais] [Lares] [Pessoas] Fiquei cá a olhar pelo pai e pela mãe. Hoje levava-se para o lar mas naquele tempo não havia lar não havia nada. Tinham que estar as noras a olhar pelos sogros. Agora a gente está aqui e as coisas que há …é tudo amigo e não há coisas nenhumas, boa tarde, bom dia e é assim. É o que eu ouço, e quando eu podia, você não ouviu o que dizia a minha nora? Quando eu podia andava com os animais, andava-se entretida. Agora tendo mais um pouco de vagar e a gente podendo já se fala mais um bocadinho com as pessoas que conhece, e as que não conhece é bom dia e casa, pois é!
Laurentino
42:46 [Apresentação] Nasci cá, tenho 53 anos mas para o que nasci e para o que está agora é muito diferente.
43:05 [Fogo] Isto agora está muito mais bonito, vai ficar porque ardeu tudo faz agora em Agosto um ano, já está a rebentar o mata e está -se a compor.
43:25 [Trabalho] Trabalhei na Câmara Municipal de São Pedro do Sul e agora há três anos deu-me uma trombose e não posso trabalhar agora.
44:29 [Antigamente] [Paródia] Antigamente há coisa de uns vinte e tal anos mais ou menos, os velhotes contavam que andavam na paródia aí a fazer uns toques com gravadores, toca a dança, …. o senhor Albano pregava com um cântaro de barro, em cima do chão, outros a botar a chumbeira, aquilo era uma paródia, tudo partido e a malta começava-se a rir. Era uma paródia.
45:08 [Agora] Agora não há nada disso, agora não fazem os bailes, agora é tudo mais diferente, não há amizades como antigamente, antigamente eram mais unidos, agora não sei se é o dinheiro se por raio é. É assim a vida, tudo diferente.
Fernanda
45:44 [Animais] [Lavoura] [Rio] Tem que começar logo de manhã cedo. Deitar às vacas, o almoço a elas, numa corte, noutra, depois aos porcos, às galinhas, aos gados todos, depois venho aqui beber um cafézito, depois mais tarde já começa a ?, as bolas aos campos, vai-se fazendo as coisitas. Quando está o tempo bom é uma maravilha quando está tempo de chuva é que é pior para andar com os gados. Passa-se bem no rio de verão mas no inverno tem que se ir lá pelo canto lá por cima ?? a ria aqui já não dá passagem, há tempos vinhamos com as vacas de lá para cá e as vacas queriam passar para cá. O rio já ia muito alto e as vacas a passar só com o pescoço de fora. E já não passaram pelo síto …. a água já veio trazê-las mais a baixo.
46:42 [Rio] Do lado de lá já noitinha, escuro, e eu preocupada, é um caso sério, nós à beira do rio de inverno, a gente está sempre preocupadas, mesmo quando os pequenos eram pequenos, estava sempre a chamar por eles com medo que eles fossem para a beira do rio, às vezes a água vai muito escura a chegar aos campos, e quando o rio, no verão, a gente ouve as lontras, a fazer barulho de noite, e é engraçado. Eu não sabia mas o meu marido é que disse que eram as lontras.
48:18 [Cheias] [Abóboras] As abóboras quando veio as cheias, já vai há mais de 10 anos, era a água ali por baixo da onte a chegar aos campos, aquela água muito escura, os pequenos eram novitos, ainda andavam na escola em Sequeiros, pelo menos o Fernando, acho que andavam os dois, e eu de volta deles, em cima da ponte, ó Fernando ó Rui vamos embora que já é de noite e vocês podem cair ao rio, e eles ó mãe, esteja calada, então comi tantas abóboras deixe-me tirá-las fora do rio, e eles a tirar as abóboras para fora a puxá-las e elas à beirita, fazia uma coisita lá … a água vinha ali parada e as abóboras vinham à beira,
49:00 [Abóboras] [Rio] [Porcos] Com uns pausitos puxavam-nas para fora punham lá no monte um torrão? delas, ia lá para o pé deles e já nem vinha fazer o comer, nossa senhora, eu nem saía de ao pé deles com medo que eles caissem ao rio. Depois a gente pega nas abóboras todos, lá as trouxemos para cima… Lá os trouxemos e pusemo-los lá fora ao pé da porta dos porcos, estava dividida a corte, estavam os porcos do lado de dentro e cá fora onde a gente os punha todos no chão, vai um dias os porcos malucos avançam por cima, mas aquilo ainda é alto, cá para fora para o pé das abóboras comer as abóboras. Nós partimo-las aos bocadinhos para eles não se engasgarem, mas afinal… então aquilo…
Fernando
51:18 [Gado] Tenho cento e tal, cento e dez, cento e vinte, cabras e ovelhas, quatro vacas, cabritas também tenh omuitas, criei muitas este ano….. para despachar as velhas, as vehas vendo-as, algumas morrem quando vem o inverno…. vendo-as e fico com as novitas, … as que não prestam tenho que as despachar se não morrem…Quando se vende os cabritos é logo para o chão.
52:16 [Chocalhos] Os chocalhos uns são pequenos outros são grandes, têm um toque quase todos diferente. Depende do material de que são feitos, já os compro assim, quero-os todos diferentes, uns são maiores ponho naquelas que vão mais à frente, aqueles maiores que é para elas caminharem menos, e os pequenitos ponho-os nas mais pequenas. ? é que são diferentes, uns tocam mais alto ou mais baixo, é diferente.
52:44 [Coleira] Isto aqui é por causa dos lobos quando são atacados, vão para lhe morder e assim já não mordem.É da serra da Estrela, anda todo o dia com elas no monte.
Mário
53:48 [Infância] [Escola] [Madeireiros] Portanto… os meus pais eram pobres, compravam também sardinhas, só uma para cada um. Porque o dinheiro era pouco, e depois mais tarde fui para a escola, fazia piões, vendia-os aos colegas para fazer dinheiro, e assim foi-se passando o tempo, depois, quando tinha treze anos já comecei a trabalhar para madeireiros, já ganhava 30 escudos por dia, gostei sempre de ganhar dinheiro.
54:33 [Tropa] [Trabalho] Antes de ir para a tropa havia aí um senhor que comprou um trator e eu fui para motorista dele. Antes de ir para a tropa, depois fui, vim e comprei então um para mim. Por isso comecei no ramo de madeireiro, trabalhar por conta própria, e assim fui chegando pelo mundo fora, depois comprei a seguir um camião.
55:33[Casamento] [Mulher] [Filhos] Depois casei com a mulher que tenho, a mulher também ia para o monte ajudar-me. Depois tive o filho mais velho, levava madeira para a Figueira da Foz ele com 15 dias ia com a gente por aí a baixo às duas horas da manhã. Depois começou a crescer e hoje trabalha connosco. Tenho o segundo filho que também nos ajuda.
Mário Jorge
56:38 [Trabalho] [Escola] [Casinhas] Sempre trabalhei na madeira, Andava a estudar e depois desisti, aos 16 anos, agora estou a trabalhar na madeira com os meus pais, é um trabalho que por acaso até gosto, agora tenho lá andando. Se calhar até estou a pensar sair da madeira porque a vida também está má. Sou capaz de emigrar ou assim..e, agora tenho uma coisa para mostrar que comecei a fazer aqui, aprendei com um senhor que é o Fernando que é aqui de Nodar, comecei a fazer umas casinhas e gostava de vos mostrar como se faz. Vou começar aqui a fazer uma, já tenho algumas feitas, vou começar a fazer uma.
57:58 [Pedras] [Sons] Isto é feito de com pedras aqui de Nodar, pedras que a gente apanha no rio, são pedras daqui que são coladas com silicone. Gosto de ouvir o som dos pássaros e essas coisas assim, a gente às vezes anda no trabalho e encontra ninhos de pássaros que fazem nas árvores. É um caso engraçado.
58:46 [Rolas] Tenho aqui duas rolas que são difíceis de encontrar, são rolas bravas, é muito raro haver disto, até posso mostrar aqui. É muito difícil encontrar isto.
Daniel
59:12 [Dia-a-dia]Às vezes brinco com o Ruben, assim da parte da manhã vou para a escola, são 30 km, às vezes fico lá até à noite, há dias, à quarta e sexta venho embora ao meio dia, à terça e quinta fico lá à noite, brinco com o ruben, às vezes ajudo a minha mãe a tirar o milho, vou buscar as ovelhas, ponho-lhes o comer para elas comerem na corte, vou buscá-las e levá-las. Boto comida às galinhas, levo água e couves.
60:05 [Sons] Às vezes ouço os cães a ladrar… a gente estranha. às vezes ouve-se o gado berrar nos campos. Às vezes vou botar comida aos cães, levo-lhes água e os cães ficam todos errodilhados, errodilham-se na corrente. Esta-se a ouvir os cães a ladrar porque sentem os outros ao pé deles, aqui agora há muitos cães, há mais cães que pessoas.
Donzília
61:17 A voz da minha mãe a acordar-nos, os carros a cantar…
agora estamos cá quatro casais novos, decidi ficar cá porque o meu marido tinha a actividade dele
os chocalhos
a sineta
[Marido] [Monte] [Trabalho] Nós não vivíamos só do campo, não podia ser, porque se não também não dava, o meu marido já era madeireiro quando veio para cá. Nunca pensei trabalhar no campo. Nunca pensei trabalhar no monte.Só que ele não me chamava mas para ir sozinho eu ia com ele. Quem quiser ter alguma coisa tem que trabalhar, o meu maior sonho era ter uma casa minha, fazer uma casa, fui trabalhar com ele para o monte, tenho fotografias que tirei com o meu filho mais velho na barriga e eu a carreguei um grande camião de madeira à mão.
62:34 [Filhos] Não havia gruas, à mão, tenho fotografias disso, foi há 20 anos, eu casei e o Jorge nasceu ao cabo de um ano. Há 20 anos, carreguei o camião e à noite fui para a mateernidade para Viseu.
62:53 [Incêndio] O incêndio não tem explicação, a gente pensa que foi posto não sei porqueê, a gente não viu mas tem uma vaga ideia de que foi posto. Foi um dia de pânico, muito grande, para quem tinha uma casa na face do monte como eu tenho, inesquecivel. Não saímos de cá, veio o helicoptero para levar as pessoas e nós ficámos, eu e os meus filhos e mais vizinhos, nós foi mesmo pela casa, andámos muitos baixados pelos meus filhos e marido, um vixinho que andava a ajudar com mangueiras e água para salvar as nossas casas, que tanto nos custou a ganhar.
63:48 [Incêndio] Para as deixar arder. Tanto que fiquei assim da minha garganta, nunca mais foi o mesmo, do fumo e dos nervos.
Rosa
64:08 [Incêndio] Rodeada de lume. Todos os meus vizinhos foram de helicoptero para Parada, eu fiquei aqui com o meu marido andava a ajudar a apagar o fogo. Foi a coisa que mais me marco, é uma das coisas que aterroriza toda a gente, pronto já lá vai vai fazer um ano e a gente cá estamos para o que der e vier.
64:35 [Lisboa] [Nodar] Estávamos em Lisboa, depois estava reformada e pensámos vir para aqui, estou aqui há dois anos com o meu marido, eeadoro isto, ainda agora fui a Lisboa, fui num dia e vim no outro, corri logo para aqui. Eu já detesto Lisboa, aquilo é uma grande confusão, isto é muito saudável, acordar ao som da água do rio. Outras vezes a gente está a espreitar quando a água sobe cá para cima, enche. Isto é maravilhosamente muito bom, é muito saudável e sossegado.
Gilberto Mota
65:24 [Ponte] A ponte era toda em pedra, ..esta lápide é do senhor que mandou construir a ponte, depois caiu pedra por pedra e tiveram que pôr as barras em ferro, é uma coisa que não deviam ter feito, devia ter sido construída conforme estava, tirou a beleza toda da ponte, de maneira que o resto, e agora vamos lá ver. O senhor que a mandou construir foi de propósito ao Brasil ganhar dinheiro para a construção desta ponte, e era o senhor Manuel Duarte Pinto de Almeida e havia aqui uma senhora que chamavam Maria da Barqueira que a minha avó era descendente dessa gente e tinha o nome de Custódia da Barqueira.
66:52 Havia aqui uns portões que tocavam uma campainha para poderem atravessar, pagavam um tostão por cada passagem mas isso já nao é do meu tempo. Dizem que mandaram construir estas alminhas derivado a umas cheias que houveram que não levaram a ponte. Ele tinha posto um copo de água por cima da ponte, aguentou-se não foi a baixo e mandou contruir estas alminhas em memória. O resto não sei.
67:53 [Canção] Muito dedicado a esta povoação, ainda me lembro bem, era Covas do Rio. Covas do Rio é uma vila, Macieira é uma cidade Nodar um barquinho de ouro onde reina a mocidade, Adeus Nodar, e a reliquia do passado um bairro tão pequenino que se vê em todo o lado. Era assim…
Desfolhada
68:08 [Canção] Eu quero subir ao alto, …. quero ver o meu amor, que irá lá alguém. Quero ver o meu amor que lá vai passar alguem. ….