A habitante da aldeia de Sequeiros Maria José Martins descreve a lenda do Santo São Macário (São Pedro do Sul), assim como a veneração que o povo devoto lhe presta anualmente.
A lenda do S. Macário que perdura nas vivências de muitos habitantes das aldeias do concelho de São Pedro do Sul, pois é uma lenda que, por um lado, está ligada a um local geográfico emblemático, o próprio monte de São Macário, onde se desenvolve anualmente, no último fim de semana de julho, a tradicional peregrinação em honra do santo e, por outro, por esse santo estar ligado à crença na cura de dois tipos de doenças: as doenças da mente, sendo que por esse facto o santo é conhecido por ser o protetor do “juízo”: (“São Macário dai-nos juízo”, como diz o povo crente) e, por outro lado, certas doenças da pele, como os chamados “cravos” ou verrugas, sendo que os crentes oferecem precisamente ao santo ramos de cravos para que interceda pela cura desse tipo de afeções.
Diz a lenda que Macário era um homem bom, mas pobre e tinha como profissão almocreve o que o obrigava a fazer grandes viagens. Um dia, numa das suas ausências, os pais dele, pensando que estaria em casa, vieram visitá-lo. Chegaram cheios de fome e frio. Em casa estava apenas a mulher de Macário. Ainda tinha restos de sopa que tinha feito para ela e pão e com isso matou-lhes a fome. Como estava frio e a lenha no era muita a ditosa senhora cedeu a sua própria cama aos sogros para que se aquecessem, enquanto ela foi buscar um molho de lenha. Sem que a esposa soubesse, entretanto Macário chegou de mais uma das suas viagens. Como não viu a esposa foi à cama onde se encontravam duas pessoas a dormir. Como a claridade era pouca no interior do casebre e cego com os ciúmes pensou que seria a sua mulher que dormia acompanhada por alguém. Puxou de uma faca e matou-os. Passado algum tempo a mulher chegou com o molho da lenha e grande foi o espanto de Macário. A mulher perguntou-lhe se os pais já tinham acordado e ele contou-lhe o que tinha acabado de fazer. Ficou tão arrependido que resolveu castigar-se, correndo montes e montes, sempre a pé e sozinho e jurou a si próprio que se um dia se fixasse em algum lugar seria num sítio bem alto, onde não vivesse ninguém e de onde pudesse contemplar a maravilha da Natureza em toda a volta e aí sim adoraria a Deus para o resto da vida.
Esse local foi o monte de S. Macário que se situa no Maciço da Gralheira e atualmente pertence a três freguesias correspondentes a duas entidades administrativas: União das freguesias de S. Martinho das Moitas e Covas do Rio e freguesia de Sul. Aí viveu pobremente, comendo mel, gafanhotos e répteis assim como rebentos de árvores. Diz igualmente a lenda que, para se aquecer, vinha à povoação mais próxima — Macieira — buscar brasas (ainda hoje existe na aldeia de Macieira a chamada “Casa do Santo” onde o povo diz que o São Macário vinha buscar as brasas) e as transportava na mão sem se queimar. Porém um dia, quando transportava as brasas, passou por uma pastora nova, olhou-lhe para as pernas, que por sinal eram jeitosas, e, nesse mesmo instante queimou-se nas mãos. A lenda não fala da sua morte. No local mais alto do monte foi edificada uma capela onde se venera o santo e cuja festa se realiza sempre no último fim de semana do mês de Julho. Mais abaixo, a cerca de trezentos metros de distância da capela referida, encontra-se outra que, segundo a lenda, era onde o santo vivia, debaixo de uma gruta que na verdade são uns rochedos que formam em conjunto uma cavidade pronunciada.
O registo audiovisual foi realizado em 25 julho de 2013 por Nely Ferreira (Binaural/Nodar), tendo a entrevista sido conduzida pelo investigador e patrólogo Padre Filippo Lanci de Abruzzo (Itáia). Edição audiovisual de Manuela Barile