Maria Engrácia dos Santos Casal, de 72 anos, é herdeira de um longo legado de tecedeiras. A par do trabalho nas terras e na resina, já tecia no tear das avós. Perdeu a mãe cedo, ainda nem tinha 15 anos, e o seu pai, Armando Carpinteiro, honrava o epíteto pelo qual era conhecido, fazendo manguais, ancinhos, bancos, espigueiros, arcas para o milho, carros de vacas, dornas e pipas para o vinho.

“Era vida dura, que não se assemelha à de agora”, diz, contando que para a refeição se compravam duas sardinhas, sendo uma para o pai e a outra dividida entre si e a mãe. A alimentação era depois colmatada com dois ou 3 porcos que se matavam por ano, com os quais se faziam chouriças e se usava a carne para conservar na salgadeira.
Mas era também à volta do ciclo do linho e da lã que a vida corria. A lã das ovelhas pretas era “fiada fininha” para tecer uma teia para fazer as calças, coletes e casacos dos homens, as saias para as mulheres e as capuchas, recorda. O pano “saía russo, mas ia ao pisão para ficar calcado” e consistente, e era depois cozido com tinta caparrosa e casca de amieiro, para tingir de preto. Já a lã branca fiava-se grossa para ser usada em cobertas mais quentes, depois da urdidura em algodão.

Mantendo a tradição, a tosquia continua a ser manual, em março ou abril.
Conforme recorda Maria Engrácia dos Santos Casal, os serões do inverno combinavam o calor da lareira com o trabalho do linho, com que se faziam “os lençóis das camas, os colchões e o vestuário”. “Como não havia luz, pendurava-se um fio com uma candeia com azeite ao tear. As mulheres fiavam, os mais novos cortavam firmas para as mantas e os homens jogavam.

A tecedeira teve quatro filhos. Maria Amália Casal Filipe Oliveira, de 46 anos, seguiu os passos da mãe e começou cedo não só a trabalhar, mas também a envolver-se nos meandros do linho e da lã. “Tosquiavam as ovelhas e a lã era dada aos mais novos. Vá, minha menina, toca a limpar a lã (tirar as impurezas) e a escarpeá-la. Toma lá um bioquinho”, recorda.

Hoje, no tear, trabalha esse mesmo material, com recurso a um navete para segurar o fio, e vai perpetuando o saber que passou gerações.