Desde o advento das civilizações agrícolas e pastoris que o homem tenta observar os céus (o sol, a lua, os ventos, as nuvens, as estrelas, etc.), o comportamento de plantas (como a floração) e animais (como as migrações de aves), tentando antecipar as alterações meteorológicas de forma a ajustar as suas atividades da terra, baseando-se quer na tradição oral vinda dos antepassados, quer da observação de situações similares já presenciadas.
Em Várzea de Calde ainda restam pedaços dessa cosmovisão divinatória, híbrido de intuições e de crenças, os quais nos foram transmitidos com particular eloquência por Engrácia Casal.
Desde logo, a previsão da transformação da sociedade, pensada desde uma aldeia isolada no início do século XX, ficou patente na deliciosa narração de Engrácia Casal, uma intuição da sua avó materna Maria da Luz de que chegaria um dia em que tantos tentariam roubar o produto do trabalho dos demais, caminhos e estradas existiriam por todo o lado e que viriam uns “cavalos rinchões”, que a D. Engrácia diz que seriam os aviões, enquanto a sua filha Amália Oliveira acha que seriam os comboios.
Concretamente, sobre a relação entre agricultura e meteorologia, transcrevem-se os ditados ou refrães contados pela D. Engrácia Casal:
“Se a Santa Maria rir, está o frio para vir; se ela chorar está o inverno a passar”
“Lua nova trovejada, trinta dias é molhada”
“Quando o vento vira de baixo, temos chuva; quando o vento vira de Calde, temos vento”
“Estão as nuvens no alto do Siriquitão, começa a trovejar e já não acudimos ao pão (ou seja, ao milho na eira)”.
Gravado em 16 de julho de 2018 com um gravador Foster F8 e um par de microfones binarias Soundman. Editado por Luís Costa
Fotografia de Neide de Oliveira.