Desde as civilizações arcaicas que a mulher está associada à fecundidade, à fertilidade e à origem da vida. Estes elementos não raras vezes são representados por simbologias aquáticas, que evocam a transformação, a purificação e a própria força vital. A água é assim entendida como o ponto de partida para a própria vida, sem a qual nada cresce, nada fecunda. Em simultâneo, a água é símbolo de cura, ou de limpeza espiritual (como no baptismo em que a “água benta” é literalmente uma “bênção” que lava os pecados). Por outro lado, nos territórios rurais, a água sempre foi o elemento fundamental para a inserção da próprias comunidades em determinados lugares: a água das nascentes, das fontes, dos ribeiros, dos rios, dos lavadouros, dos moinhos, dos pisões, dos sistemas de rega, das termas, etc. etc.
Uma manhã de sábado de chuva intensa encheu a Rua Direita de São Pedro do Sul da horizontalidade dos fios de água escorrendo pela calçada e da verticalidade do concerto de pingos caindo das cumeadas dos telhados, oportunidade carregada de simbolismo para um percurso pelas variações sonoras da água e pelas evocações das instalações presentes em vários pontos da rua, integradas na exposição “Mãe de Água”, concebida pela Binaural/Nodar para o Município de São Pedro do Sul e integrada no Projeto Cinco que reúne ainda os municípios de Águeda, Lousã, Idanha-a-Nova e Óbidos. Assim nasceu “Mãe de Água: Um meta percurso” enquanto tentativa de criar outros sentidos sonoros, incorporando o que já estava e adicionando o que não se antecipava.
Peça sonora composta por Luís Costa em 19 de janeiro de 2019.
Registos sonoros realizados por Luís Gomes da Costa, Manuela Barile, Liliana Silva e Ana Rodríguez nas aldeias de Posmil, Rompecilha, Sequeiros e Bondança (todas do município de São Pedro do Sul).