As aldeias da encosta sul da serra do Montemuro são por excelência e desde tempos imemoriais lugares de pastoreio de cabras. Em lugares como Cabril, Meã ou Parada de Ester ainda resistem as chamadas “vigias”, pastores que levam à serra, em sistema de rotação, o gado de vários proprietários. O monte onde as cabras pastoreiam é normalmente baldio, ou seja pertença da comunidade como um todo, pelo que esse pastoreio não exige a existência de campos destinados à produção de erva, ao contrário do que acontece com as ovelhas. As cabras são capazes de triturar e digerir plantas silvestres espinhosas como a urze ou a carqueja, para além de todas as restantes ervas do monte.
Antigamente nas aldeias havia normalmente um ferreiro artesão que cuidava da manufactura de vários de tipos de alfaias ou utensílios de metal, como é o caso dos chocalhos. O chocalho é um pequeno sino cilíndrico, de construção tosca, feito de chapa de ferro ou de cobre usado no pescoço do gado e com três funções complementares: para que o pastor saiba onde andam os animais, para que os próprios animais entre eles sigam os líderes que levam o chocalho e para que se reconheçam os animais de vários proprietários pelas diferenças de tonalidade ou de ritmo do chocalho.
Para que um chocalho obtenha o seu som característico, para além da chapa de ferro ser moldada na forma de sino com ajuda de um martelo, a mesma necessita de passar pelo forno e de ter agregadas umas lâminas de cobre, estanho ou bronze as quais, ao fundirem-se, cobrem a peça e lhe dão o som característico, o qual deve ter diferentes tonalidades, de forma a que existam diferenças sonoras que sejam reconhecidas quer pelos pastores, quer pelos próprios animais. A afinação dos chocalhos é obtida na bigorna por via de umas certeiras marteladas na sua parte interior, onde baterá o badalo, de forma a que o resultado final se aproxime de um carrilhão de chocalhos (diferentes tonalidades escutadas de forma alternada ou simultânea). O chocalho é atado por meio de uma coleira de couro, tradicionalmente curtida e cortada na própria aldeia por uma família que se dedicasse a vender curtumes a partir das peles do gado bovino ou caprino.
No caso concreto desta gravação, o gado caprino acabava de sair do monte e chegar ao núcleo urbano da localidade de Mosteiro de Cabril (Cabril designa precisamente um curral de caprinos), sendo possível ouvir o som de vários chocalhos, entre os quais um maior com um som mais grave, o qual provavelmente estaria colocado num macho (chibo ou bode) capado. Ao serem capados os machos ficam mais mansos e seguem mais facilmente o pastor e, portanto, agregam de forma mais compacta o rebanho de cabras. No entanto, cada pastor ou proprietário coloca os chocalhos segundo a sua intuição. Ou pode colocá-los nas cabras mais mansas, nas que tendem a afastar-se (tresmalhadas) para que se perceba a sua localização e, também, num conjunto aleatório de animais para que aumentar a coesão global do rebanho.
Gravado por Luís Costa no dia 17 de março de 2011 com um gravador digital Fostex FR-2LE e um par de microfones shotgun Rode NTG-2.