Entrevista integrada no projeto “Pedras Faladas: Memórias Geológicas de Bodiosa”, uma homenagem às pessoas concretas que estiveram e estão ligadas ao universo geológico desta freguesia do município de Viseu.
António Bento é um dos herdeiros dos antigos mestres da pedra de Bodiosa. Começou a trabalhar ainda nos tempos de escola primária, com o ofício de servente ou, nas suas palavras, de “pincha” (velha palavra beirã etimologicamente ligada à raiz latina “pinso[are]” que significava dar golpes para derrubar muros ou muralhas), aquele que chegava aos “artistas” as ferramentas como o ponteiro ou o pixote (ponta de ferro usada para abrir pequenos furos nas pedras ou para as dividir a partir das fendas) ou que, no final do dia, às vezes sozinho, tinha que contar as ferramentas para que nenhuma faltasse e ainda tinha que as levar para o afiador ou ferreiro, como o Ti Carlos Roseiro para que este à noite afiasse os picos para a manhã seguinte, muitas vezes com os serventes a ajudar, dando ao fole na forja artesanal.
Do árduo ofício de operário de pedreira faziam igualmente parte ferramentas como a maceta ou martelão que pesavam entre três e oito quilos e se usavam para bater nos pixotes em lugares estrategicamente posicionados para abrir a rocha por onde se pretendesse. Depois de rachada, a pedra começava a ser desmontada a golpes de pico e com o esquadro garantia-se que ficava à esquadria e preparada para assentar onde fosse necessário. Para tombar as pedras para o lado eram precisos vários homens e muitas vezes tinha de se usar alavancas com cordas, dado o enorme peso das mesmas. De entre vários ofícios ligados à pedra, António Bento trabalhou também como calceteiro, tendo descrito as técnicas de assentamento da tradicional “calçada à portuguesa”.
Entrevista a António Bento de Travanca de Bodiosa, Bodiosa a 24 de Março de 2015. Entrevista e Transcrição da Entrevista de Susana Rocha. Registo e Edição audiovisual de Nely Ferreira.