As paredes da azenha de Vale de Matos, no município de Castro Daire, são fiéis depositária de muitas memórias de uma comunidade que se habituou a ali fabricar o azeite.

Joaquim Pereira e Mário Gonçalves, os últimos trabalhadores do lagar, conduzem-nos até esses tempos em que, durante cerca de três meses, entre dezembro e fevereiro, era grande a azáfama para dar resposta aos fregueses.

Os dias de labor começavam cedo, com a lamparina a alumiar a madrugada, enquanto a água fervia na fornalha.

À chegada, a azeitona era carregada até ao primeiro andar da azenha, onde era pesada e conduzida, através de uma caleira, até à mó, movida através da força motriz de uma vaca, junguida com a molhelha e a soga. Durante duas horas e meia ou três horas, o movimento circular repetia-se, até que o fruto estivesse transformado em massa.

Retirada com o auxílio de uma pá, essa pasta seguia, depois, para as seiras e para a prensa, onde era caldeada para separar o azinagre do azeite. Sempre atentos, os trabalhadores tinham de acompanhar a passagem deste até à última tarefa, marcada como uma cruz na pedra, que assinalava o produto “sagrado”.

Finalizada a etapa, media-se o azeite – por cada dez litros um era para a casa – e
mandava-se recado ao proprietário, para que viesse buscá-lo, enquanto um novo moinho já estava em andamento, reiniciando-se o processo.