Como nunca foram divididos pelos habitantes, como foi estratégia noutras localidades, “Rebordinho é uma aldeia com muitos baldios”. Até 1994, “eram geridos pela Junta de Freguesia e muito do nosso rendimento era investido na freguesia e não em Rebordinho”, recorda Fernando Tavares, natural da aldeia, acrescentando que “a injustiça criou alguma revolta”.
A primeira reunião, conta o habitante, foi convocada pela Junta de Freguesia e juntou mais de 50 por cento da população, mas acabou por não ter seguimento porque faltava um documento que era importante para o processo, constando-se que a Junta de Freguesia terá recolhido os editais.
Anos mais tarde, quando a autarquia local decidiu vender um grande lote de madeira no Vale Escuro, “a população mobilizou-se, pois não tinha havido obra nenhuma em Rebordinho que justificasse a decisão”.
É neste contexto que surge a Assembleia de Compartes de Rebordinho e Malhadouro, em 1994, tendo como grandes impulsionadores e zeladores Celestino Tavares, Afonso Fontes e Amadeu Soares. “Foi uma excelente oportunidade”, defende Fernando Tavares, realçando “o interesse e a capacidade que considerávamos que tínhamos para gerir os nossos baldios”.
Entre as primeiras preocupações estiveram os trabalhos para gerir, proteger e limpar os terrenos, e abrir caminhos. Havendo dinheiro de sobra, foram melhoradas as acessibilidades, apostou-se em rentabilizar o setor da água, iniciou-se a conceção da exploração da pedreira, construiu-se o Salão de Festas, adquiriu-se uma cisterna e aproveitaram-se as contrapartidas que envolveram a ida da lixeira de Vouzela para uma área de Rebordinho.
Para o responsável, “todo o dinheiro investido tem sido bom”.
E mesmo se nem todas as oportunidades foram aproveitadas ao longo das últimas três décadas, justifica que “a maioria manda” e que, de um modo global, melhorou “a qualidade de vida” da população.
Fernando Tavares diz-se “satisfeito com a gestão da floresta implementada” e “por ainda hoje as pessoas reconhecerem que o sistema é bom e se manterem em ação”.
Em relação aos órgãos dirigentes, fala de uma “equipa competente, com espírito de voluntariado e disponibilidade”.
“Rebordinho tem crescido, por meios próprios, de forma extraordinária”, sublinha o responsável.
Entrevista realizada no âmbito do projeto “A Valorização dos Baldios de Rebordinho e Malhadouro”.
Uma coprodução entre a Binaural Nodar e a Comunidade Local dos Baldios de Rebordinho e Malhadouro, com o apoio do Município de Vouzela e da Junta de Freguesia de Campia.