É legítimo afirmar que, muito embora estas aldeias se integrem numa tradição castrense comum, elas foram ao mesmo tempo influenciadas por outras terras vizinhas nas respetivas tradições musicais e folclóricas. Desde as terras de Cabril, já tão próximas dos concelhos de Arouca e de Cinfães, bebendo, por exemplo, influências das culturas ribeirinhas do rio Douro e do seu afluente rio Paiva, passando pelas terras profundamente montemuranas do Picão, Relva, Mezio e Almofala que tocam concelhos como os de Resende e Tarouca, até às terras situadas mais a sul, como Granja, Moledo, Carvalhal, Alva e Mosteirô, as quais beberam muitas influências de concelhos como Vila Nova de Paiva, Viseu e São Pedro do Sul.
O impulso para “Dançar com a Raiz” partiu da constatação de que, no contexto da pandemia de covid-19, os ranchos folclóricos do concelho de Castro Daire entraram num forçado período de inatividade que colocou em causa a regularidade dos seus encontros, ensaios e atuações. Aproveitando esse período de pausa e como fator de motivação, a equipa do projeto “Dançar com a Raiz”, constituída por elementos da Biblioteca Municipal de Castro Daire e da Associação Binaural Nodar, meteu-se à estrada e efetuou recolhas documentais em dez aldeias do concelho, onde têm sede outros tantos ranchos folclóricos em atividade: Cabril, Picão, Relva, Mezio, Almofala, Granja, Moledo, Termas do Carvalhal, Alva e Mosteirô. A estes dez ranchos folclóricos haveria que somar o Rancho Folclórico da Casa do Concelho de Castro Daire em Lisboa, representante na capital do país das tradições castrenses mais arreigadas, rancho que é incluído neste projeto com toda a legitimidade.
O objetivo mais relevante do projeto “Dançar com a Raiz” constituiu a digitalização e/ou a análise de parte dos acervos documentais dos ranchos folclóricos do concelho, constituídos por uma imensa quantidade de fotografias, vídeos, recortes de jornais, cartazes, letras de modas, partituras musicais, atas de reuniões, cassetes, cd’s, aos quais se junta um manancial de outros aspetos como os trajes, instrumentos musicais, bandeiras, objetos etnográficos, medalhas e pratos comemorativos, etc. Estamos, pois, perante um imenso conjunto de documentação patrimonial que urge recolher, preservar, catalogar e divulgar, sendo que consideramos o projeto “Dançar com a Raiz” um mero passo exemplificativo do que é possível fazer ao nível de cada rancho folclórico, com tempo, dedicação e método.