Pela altura de São João, homens e mulheres, dedicados ao pastoreio do gado, reúnem largas centenas de animais, como se de rebanhos comunitários se tratasse. As cabras e ovelhas vão aproveitando os momentos de descanso à sombra da flora existente, perante o olhar curioso do público que se vai juntando para assistir.
O ponto de encontro é uma quinta na aldeia de Ribolhos, no município de Castro Daire, local de partida para a Última Rota da Transumância, um valioso património imaterial que permite recriar a identidade e autenticidade de uma prática ancestral. É que com a chegada do tempo mais quente, os ricos pastos da serra tornavam-se apetecíveis e os pastores, em espírito de entreajuda, guiavam os rebanhos, atravessando trilhos inóspitos e isolados até à Cruz do Rossão, na freguesia de Gosende, a 1382 metros de altura. O território chegou a acolher perto de 30 mil animais nestes movimentos transumantes, que chegavam do sopé da Serra da Estrela, com destaque para aldeias dos concelhos de Seia, Nelas, Mangualde, Viseu, Tondela, Santa Comba Dão, Carregal do Sal, Oliveira do Hospital, Tábua e até da zona mais a norte de Coimbra.
Depois de ter perdido força a partir da década de 70 do século passado e de ter caído em desuso, A Última Rota da Transumância ganhou, em 1999, novo fôlego, como forma de perpetuar a herança cultural local e, ao mesmo tempo, valorizar os conhecimentos ancestrais das sociedades agro-pastoris.
A recriação, promovida pelo Município de Castro Daire, foi registada pela Binaural Nodar, nos dias 6 e 7 de julho de 2024, enquadrado nos projetos “Memória Sobre Rodas” e Europa Criativa Tramontana IV, cofinanciado pela União Europeia.