Ao longo de séculos, os pastores e seus rebanhos estiveram ligados a movimentos sazonais. Em Castro Daire, no início do verão, pela altura das festividades dedicadas a São João, seguiam em direção aos pastos verdejantes do planalto serrano do Montemuro; e pelo São Bartolomeu, antes das condições desfavoráveis do outono, desciam a ‘casa’, em regiões mais temperadas. Estes movimentos itinerantes chegaram a envolver, no seu período áureo, até à década de 70 do século passado, cerca de 30 mil cabeças de gado, guiadas pelos pastores desde os territórios do sopé da Serra da Estrela, incluindo de aldeias dos concelhos de Seia, Nelas, Mangualde, Viseu, Tondela, Santa Comba Dão, Carregal do Sal, Oliveira do Hospital, Tábua e até da zona mais a norte de Coimbra.

Estas rotas transumantes ainda têm a sua marca bem vincada, por entre aldeias, ribeiros, vales, pontes e poldras. Partindo da aldeia de Ribolhos, os animais são guiados pelos cajados dos pastores por terrenos inóspitos e, já com a vila à vista, descem em direção à emblemática Ponte Pedrinha, que liga as duas margens do Rio Paiva. Saindo da Estrada Nacional 2, calcorreiam a calçada romana até ao centro de Castro Daire. Vencida a zona urbana, o verde volta a dominar a paisagem, ao mesmo tempo que a imensidão se apodera de um horizonte a perder de vista, alcançando o olhar as vizinhas Arada e Freita.

À chegada à Serra do Montemuro, com a Cruz do Rossão como referência, abundam a biodiversidade e os terrenos férteis onde, numa viagem pelo tempo, os rebanhos se espalhavam, e os abrigos dos pastores, que, encerram histórias de coragem e dedicação. E a quietude é apenas quebrada pelos sinos que as reses de gado transportam ou por um ou outro chamamento dos seus guardadores.

A recriação, promovida pelo Município de Castro Daire, foi registada pela Binaural Nodar, nos dias 6 e 7 de julho de 2024, enquadrado nos projetos “Memória Sobre Rodas” e Europa Criativa Tramontana IV, cofinanciado pela União Europeia.