Franklin Lima estava ao serviço do pároco e acompanhou de perto as obras e o processo de angariação de fundos para a construção da igreja nova de São Miguel do Mato.
Com a chegada do Padre António de Almeida de Oliveira e Silva, que já tinha vindo com o propósito de dar seguimento à vontade do povo, viveu-se um período de grande dinamismo na paróquia, conta, falando de um homem doce, bom e muito respeitado na comunidade.
Depois de conseguidos os terrenos para o Passal e a Igreja, organizaram-se os cortejos de oferendas. Como “o povo era remediado”, as famílias davam o que podiam, entre batatas, abóboras e cebolas.
Conforme recorda a sua esposa, Maria Marques, velhos e novos participavam na iniciativa. Os homens vestiam camisa branca e calça preta enquanto tocavam e desfilavam com uma nota ao peito ou um bacalhau à cintura. Já as mulheres, a cantar, engalanavam-se com uma saia a imitar as tricanas e blusa branca, seguindo com um cesto à cabeça com as oferendas. Os grupos levavam também carro de vacas com os bens mais pesados.
“Cada povoação fazia a sua marcha”, conta, evocando um tema da sua autoria:
Este rancho vai cantando
Uma canção que deseja
De par a par vai andando
A caminho da igreja.
E à despedida, cantava o grupo:
Este rancho tão unido
Já se vai a retirar
Pedindo a Deus que os ajude
Para o ano cá voltar
As letras iam sendo adaptadas às várias fases das obras e as canções “eram muito bonitas”.
Franklin Lima realça que houve “muito sacrifício e muita despesa” para a igreja estar no lugar que hoje ocupa. No seu caso, chegou a alugar, para os desfiles, um lenço e um avental, e pagou 500 escudos por cada peça, numa época em que ganhava 20 escudos por dia.
Na celebração da eucaristia, o padre também fazia o apelo à solidariedade, com cada um a contribuir à medida das suas posses. “Às vezes os mais pobres eram os que se sacrificavam mais do que os ricos”, garante.
Os cortejos contavam com a colaboração de todos e apenas o povo de Vilar não concordava com a mudança da localização da igreja e do sino.
Foi, por isso, que, certa noite, a infraestrutura foi retirada ‘à socapa’. Franklin Lima preparou o carro de vacas encostado à torre, o sino foi desmanchado, descido com um guindaste e acomodado entre canas de milho para não se danificar no transporte.
Quando se soube em Vilar ainda se sentiu “apertado”, mas depois de uma rodada na tasca da aldeia, os ânimos serenaram e o sino, com mais de 500 quilos, permaneceu no local onde ainda hoje se encontra.
“É um lugar maravilhoso. Foi para o bem de todos”, garante Franklin Lima.