O médico neurólogo galego Juan Pías Peleteiro é um investigador em neurologia, recorrendo não raras vezes a uma perspectiva multidisciplinar, como é o caso do artigo do qual foi co-autor “Interpretación popular del ictus en la Galicia antigua”, o qual usou também fontes oriundas da história medieval e da etnografia rural galega.
Juan Pías Peleteiro refere-se à importância do Pico Sacro, um monte situado perto de Santiago de Compostela, por um conjunto de razões, desde logo geomorfológicas, pelo facto de por ele passar um filão de quartzo que não se desgastou com o passar dos milhões de anos. Por outro lado, há muitas evidências de que aquele era um lugar sagrado. Os primeiros historiadores romanos da província da Galleacia referiam-se a um lugar venerado, o Monte Ilicino, ou seja, o monte que seduz. E era tão sagrado que não se permitia ará-lo, tocá-lo com instrumentos de ferro. Apenas quando caía um raio, que era algo habitual, porque pela natureza do quartzo é habitual (ser um atrator de raios), a gente amontoava-se para ver que ouro ou que tesouros tinha descoberto o raio.
Aquele monte tão importante foi cristianizado de forma solene. No famoso Códice Calixtino está descrita a trasladação do corpo do Apóstolo Santiago desde Jerusalém até à Galiza. Os discípulos do santo, Atanásio e Teodoro. aproximaram-se do monte e dele saiu um dragão. Eles conseguiram com que morresse o dragão fazendo o sinal da cruz. O dragão rebentou mas, no seu interior, haviam uns ovos e deles rapidamente eclosionaram outros dragões que se esgueiraram e se meteram novamente na cova do Pico Sacro. Segundo Juan Pías Peleteiro, no contexto da festa de São Lourenço, que tem lugar no Pico Sacro durante o verão, parte do rito consiste em apanhar pedras e atirá-las para a cova, para que a besta, para que o dragão não saia de novo.