Prazeres da Glória Pinheiro foi uma inspiração para a sua neta, Ana Almeida. Sendo a mais velha de 10 irmãos, desde muito nova foi criada com avó, que lhe transmitiu muito do que é, tanto a nível profissional, como pessoal.
A avó Prazeres, considerada uma das melhores tecedeiras do país e que participou na exposição Mundo Português, em 1940, dedicou os últimos 30 anos da sua vida ao tear e, muitas vezes, fazia demonstrações ao vivo em feiras. Tapetes, carpetes, teias de linho, toalhas, naperons e colchas com diferentes padrões estavam entre os artigos que confecionava.
Foi dela que herdou o gosto pelo ofício. Aprendeu a arte quando tinha 13 anos e, desde logo, ficou cativada pelo mundo do tear, com o seu ritmo cadenciado e a trama que se vai criando através da passagem da lançadeira e dos pentes.
Ana Almeida foi mãe muito jovem e face à falta de oportunidades de trabalho na zona onde ainda vive, em Cambra de Baixo – Vouzela, esta foi a solução para conciliar a maternidade e o sustento da família.
Chegou a dar formação, mas defende que “todos os dias fica a saber um bocadinho mais”.
“Antigamente, tecer era para a utilidade de casa”, recorda. A lã dava origem a peças como tapetes, mantas ou colchas; e “qualquer casa tinha e cultivava linho”, com que se faziam lençóis, panos de cozinha, toalhas e vestuário. O processo, no entanto, era exigente e a planta dava muitas voltas até chegar ao tear. “O linho requer terra bem estercada e preparada.
Semeia-se geralmente em abril, monda-se e rega-se. Quando está criado, três meses depois, normalmente em junho, arranca-se, ripa-se e vai a demolhar para o rio, entre oito e dez dias, dependendo do caudal e da temperatura da água. Depois de seco, é espadelado, maçado e a fibra arruma-se em molhinhos. Ao longo do ano é sedado, fiado e metido no sarilho para fazer as meadas. É cozido durante duas horas com cinza ou sabão azul, corado e usam-se as meadas à medida que são necessárias para trabalhar, dobando-se para ir para a urdidura”, explica. Os tomentos e a estopa, partes menos nobres do linho, eram igualmente aproveitados.
Para estar feliz, Ana Almeida senta-se no tear e põe mãos ao trabalho, talvez pelas boas lembranças que o ofício lhe traz. Naperons com bainhas abertas, tapetes, colchas ou carpetes… são várias as obras que vai desenvolvendo e que leva a feiras medievais e de artesanato da região.
Conforme nota, “há clientes que se vão mantendo, atraídos pela memória familiar e pelo património afetivo feito com carinho e dedicação”. “Nisto não se trabalha em função dos resultados rápidos. Faz-se com gosto”, garante.