A infância de Aventino Pereira foi passada em Rebordinho, freguesia de Campia, no concelho de Vouzela, e, como a da maioria das crianças da época, pautada por muito trabalho. Em compensação, e entre as quezílias próprias da juventude, havia companheirismo e brincadeiras, como a malha, a choca ou o peão.
Não havia luz ou outras comodidades. A inauguração da eletricidade na aldeia só acabaria por acontecer em outubro de 1970, já depois de Aventino Pereira ter cumprido o serviço militar.
Conforme nos conta, as pessoas viviam da agricultura e da venda de algumas bicas para a resina. Também se comercializavam vitelos para ajudar na economia das famílias. Como não havia fábricas, só algumas artes – como a de pedreiro ou alfaiate – sobressaíam.
Dos campos tiravam-se os alimentos que a terra dava e cultivava-se o linho, com as suas várias etapas, desde a arrancadela, a estrigadela, a maçadela, a fiação e a tecelagem. Com a matéria-prima, recorda Aventino Pereira, faziam-se lençóis e camisas.
Surgiram, entretanto, novos recursos económicos, como os aviários, e a aldeia foi melhorando e desenvolvendo-se. Algumas expressões, no entanto, mantiveram-se até hoje, como a “banda d’além” e a “banda d’aquém”, que dividiam Rebordinho em duas povoações, com terrenos devidamente delimitados nas extremas junto à corga. A rivalidade era tão grande que chegava a opor familiares de sangue, conforme se habituou a ouvir contar ao seu pai.