Os meses de verão eram os mais problemáticos em termos de água para regadio na aldeia de Várzea de Calde. Se, durante o ano, havia várias poças usadas para o efeito, antes da chegada do calor preparavam-se represas ao longo da ribeira para o aproveitamento deste recurso hídrico. O toque do sino era o sinal para alertar que era necessário fazer uma poça, limpar o rego ou arranjar os caminhos agrícolas.
A comunidade tinha a particularidade de, nas levadas, tirar a água com o cabaço, porque o desnível era mais baixo do que o rego que ia fazer o transporte da água para os terrenos.
O rego do Povo, que nascia na Ribeira da Várzea, junto ao Moinho da Borralheira, em direcção às poldras do Rio Vouga, era a principal fonte usada na rega e as suas águas partilhadas. Os antepassados, explica-nos Hermenegildo Gonçalves, “eram mais modestos, eram mais participativos e deixavam fazer a passagem da água nas suas propriedades”.
Cada agricultor ficava a guardar a água durante a noite para apanhar a vez de regar, recorda, acrescentando que o pai o mandava sentar no carreiro com os pés no rego para perceber quando o utilizador anterior tivesse terminado o trabalho.
O furo artesiano, que começou na década de 70/80 e onde a água era extraída com bomba manual para consumo em casa, ou os poços, quando apareceu o motor a petróleo, eram outras das fontes utilizadas.
A barragem, realça Hermenegildo Gonçalves, veio deixar em desuso estes hábitos. Ainda assim, ficaram eternizadas outras infra-estruturas, como os cinco moinhos que existem ao longo da Ribeira da Várzea. Embora apenas um tenha utilização, dada a falta de cereal para moer, todos estão recuperados e podem ser visitados em paralelo com o percurso pedestre PR1, no concelho de Viseu.