Épocas houve em que a população era auto-suficiente, produzindo, com arte e engenho, tudo quanto necessitava.
Destas práticas ancestrais chegam-nos memórias, como as partilhadas neste testemunho por Américo Vilar, José Lourenço e Ângelo Lourenço. Trata-se do Pisão do Redeiro, em Paraduça, no concelho de Viseu, que herdou a designação por ter permanecido, ao longo de gerações, na família dos redeiros, ligada, noutros tempos, precisamente ao fabrico artesanal de redes de pesca.
O equipamento foi construído há mais de 200 anos, tendo deixado de funcionar há cerca de 50, por não haver quem desse continuidade ao trabalho.
O edifício, contam, pautava-se pela existência de uma nora, com cerca de cinco metros de diâmetro, no exterior, que, movida pela força da água, sobretudo nos meses de inverno, fazia funcionar o equipamento no interior, feito sobretudo a partir de carvalho, castanho ou pinho e serrado manualmente. Aqui encontravam-se dois maços de madeira de grandes dimensões, suspensos numa armação, e que iam batendo, de forma alternada, no tecido de lã, sempre com água, previamente aquecida na caldeira, a cair, para que este ficasse “apisoado”, ou seja, para que ganhasse espessura.
O barulho ouvia-se na povoação, a dois quilómetros de distância, recordam.
O resultado final era o burel, que dava origem às capuchas, cobertores, casacos e outras peças de vestuário. O Pisão do Redeiro servia as comunidades num raio de 30 quilómetros. Quem vinha de longe trazer as teias para pisoar não se esquecia da merenda, pois muitas vezes tinha de aguardar longas horas até que o material estivesse pronto, dado que uma fornada demorava quatro ou cinco horas a ficar pronta. Depois de seco, media-se o tecido com a barra de metro para calcular o valor a pagar.
Conforme salientam os moradores, o pisão “tinha muito movimento” e era uma importante fonte de rendimento.