Olívia Chaves cresceu no seio de uma família muito trabalhadora, em Nogueira de Côta – Viseu. O pai, letrado, era alfaiate e praticava a sua arte em casa; enquanto a mãe, filha de lavradores, dedicava-se com afinco às lides do campo. Hoje, recordando esses tempos cheios de peripécias e em que já se notava o seu espírito aventureiro, não tem dúvidas de que tinham “uma vida muito feliz”.
No seu testemunho, transporta-nos também pelas particularidades da sociedade daquela época e da vida na aldeia. As famílias numerosas, a importância dada à religião, a escola dividida para rapazes e raparigas são alguns desses aspectos. De fora não fica ainda a animação que pautava os tempos livres. Aos domingos havia bailaricos, ao som da concertina ou do harmónico, e todos os meses vinha à aldeia um carrossel. Quando abriu o café e minimercado “Verdinho” passou a ser um gira-discos, com altifalantes no exterior, a proporcionar momentos de convívio que atraíam “a rapaziada de todas as aldeias vizinhas, que vinha dançar com as raparigas de Nogueira de Côta”.
Aos 16 anos, Olívia Chaves também quis partir à descoberta do que havia para lá dos horizontes da sua aldeia. Numa primeira fase, foi para Pau, em França, com um contrato pela emigração como aprendiz de cozinha. O processo implicava alguma burocracia, mas conseguiu um tutor, dado que era menor.
Seguiu-se Paris, para onde foi servir para uma família e tomar conta das crianças. Como só convivia com franceses, isso obrigou-a a aprender rapidamente e comprou um dicionário bilingue. Essa experiência permitiu-lhe conhecer diplomatas e conviver com artistas de cinema e do mundo da música.
Olívia Chaves explica que faz parte do seu caráter adaptar-se bem às situações. O que custou mais foi ter de se separar dos filhos. Uma vez que sempre teve intenções de voltar ao seu país, estes estudaram em Portugal.
Quando regressou, a família investiu num armazém grande, em Viseu, e Olívia aproveitou o seu curso de chef de cozinha tirado em Paris para montar o restaurante “Concord” no Rossio, em Viseu. O sucesso profissional era inversamente proporcional ao da sua vida pessoal, mas nunca se deixou vender pelas contrariedades. Voltou a valer-se das suas aptidões como chef, arranjou trabalho numa unidade hoteleira em São Pedro do Sul e conseguiu reerguer-se das cinzas.
Depois de ter voltado a encontrar o amor, Olívia Chaves regressou a França, em 1994, para tratar da sua saúde, mantendo o hábito de vir a Portugal para matar saudades.