Virgínia Pereira é natural de Várzea de Calde (Viseu) e mais um dos exemplos das gentes cujas vidas foram marcadas pela emigração.
A sua história transporta-nos até aos anos 50 do século passado, com os usos e costumes próprios do mundo rural – a matança do porco de que se transformava o fumeiro, os métodos de conservação, os hábitos alimentares sustentados pelo que a terra dava, a pastorícia e os trabalhos próprios das lides agrícolas –, sem esquecer as tradições religiosas.
Virgínia Pereira considera-se uma felizarda, devido à sua infância “muito boa”, no seio de uma família de trabalho, ligada ao campo e à resina, onde não se passava fome.
Casou em 1973, aos 20 anos, e um ano depois foi mãe. O seu marido, entretanto, emigrou para a Alemanha e Virgínia seguiu-lhe o rumo, aos 24. Corria o ano de 1977 quando chegou a Colónia, onde já viria a nascer o segundo filho.
Sempre “com os pés bem assentes na terra”, o principal objetivo era o de construírem uma casa na aldeia. E assim foi.
No entanto, conta-nos que os primeiros tempos não foram fáceis. As saudades dos pais mitigavam-se por carta e, mais tarde, por telefone. Já as viagens faziam-se, até há bem pouco tempo, de camioneta. Após o falecimento dos progenitores, confessa, deixou de ter motivos para querer regressar, em definitivo, às origens.
Com cerca de 40 anos no estrangeiro, habituou-se a lidar com diversas nacionalidades nos diferentes locais onde trabalhou: um restaurante, uma fábrica e em limpezas de escritórios. Ainda assim, a comunidade portuguesa é também muito expressiva e a própria Virgínia faz questão de manter as tradições lusas, desde a missa na língua materna à gastronomia.
“A emigração tem muito que se lhe diga”, reflete. Porém, quando olha para trás, não se arrepende, pois garante que fez o que pôde para lutar pela família.