A freguesia de Manhouce é uma das mais extensas freguesias do concelho de S. Pedro do Sul, situando-se no seu extremo ocidental, no limite com o concelho de Oliveira de Frades e com o concelho de Vale de Cambra, este já no distrito de Aveiro. A freguesia situa-se em pleno maciço da Gralheira, na zona limítrofe entre a Beira Alta e a Beira Litoral.

A origem do topónimo da freguesia está possivelmente associada ao “amanho da terra” e a um lugar chamado Couço. Assim “manho”, de amanhar a terra e Couço, ligado ao lugar, pode ter originado “Manhecouço e posteriormente Manhouce.

Os vestígios arqueológicos na freguesia de Manhouce são em grande número e permitem fazer remontar a épocas pré-históricas esse povoamento inicial. Por exemplo, o sítio de arte rupestre das Corgas de Valongo da Grávia, em cujo afloramento granítico, foram gravados vários motivos, de uma gramática afim da arte rupestre. Também no Juncal, foram descobertas quatro mamoas, construídas durante a Idade do Bronze, Calcolítico e Neolítico.

Manhouce era atravessado por uma via romana que, saindo do Porto, passava por ali, rumo a Viseu. Sensivelmente a meio caminho entre as duas cidades, esta aldeia, onde existiu uma albergaria fundada por D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, era local obrigatório de pernoita de recoveiros e almocreves que por lá passavam e estabeleciam o intercâmbio sociocultural entre as gentes do litoral e do interior. Por isso a sua etnografia tem muitas influências do Douro e da Beira Litoral, como as características do traje tradicional divulgado pelos grupos etnográficos de Manhouce.

Em Maio de 1938 o primeiro Rancho de Manhouce é formado no contexto da participação da aldeia no concurso “Aldeia Mais Portuguesa de Portugal”, culminando com a deslocação à aldeia de um júri e respectivo aparato, em 25 de Setembro seguinte, de cuja memória se repercute ainda hoje na população. Em 1940 o Rancho de Manhouce participou no cortejo comemorativo e exposição do Mundo Português em Lisboa. A partir daí foi divulgando as danças e cantares da região com várias atuações. Uma delas ocorreu no ano de 1961, no âmbito da qual foram gravados dois discos singles, pela Rádio Triunfo, por iniciativa do etnomusicólogo Armando Leça.

Em 1942, O “mestre” António Silva e outros tocadores de Manhouce formam a Tuna de Manhouce. Foi na tuna que vários tocadores de Manhouce aperfeiçoaram nos anos seguintes os seus conhecimentos e técnicas.

No início dos anos 70 Michel Giacometti gravou em Manhouce um dos cantares mais emblemáticos do cancioneiro local, “Aboio”, o qual foi incluído no disco “Beira Alta, Beira Baixa, Beira Litoral” da Antologia da Música Regional Portuguesa”, de Fernando Lopes Graça e Michel Giacometti, editada pelos Arquivos Sonoros Portugueses e pela Valentim de Carvalho,

A partir da revolução de abril de 1974 surgiu um movimento espontâneo de revitalização das tradições folclóricas da freguesia, em que as danças e os cantares eram ensinadas aos mais novos. Nesse período forma-se o Grupo de Grupo Etnográfico de Trajes e Cantares de Manhouce, grupo ensaiado pelo Mestre António Silva e que contava com a voz única de Isabel Silvestre como ex-libris que suscitava interesse por todo o país e estrangeiro.

Em 2005, Isabel Silvestre mobilizou alguns membros do Grupo Etnográfico de Trajes e Cantares de Manhouce e formou, com o apoio do ensaiador António Alexandrino, um grupo feminino que a acompanhava em concertos, “As Vozes de Manhouce”, tendo sido integradas meninas dos 8 aos 15 anos, cujos últimos registos discográficos do canto polifónico a três vozes foram: Geografias do Canto Rural (2018) e Renascer (2019).