Ao longo de milhares de anos, a resina de pinho foi usada por diferentes civilizações, tendo atingido o auge, no nosso país, nos anos 70 e 80 do século XX. Como nos mostram António e Manuel Fernandes, no início de cada época de resinagem, os homens preparavam os pinheiros para mais uma campanha, cumprindo um conjunto de normas para assegurar o crescimento regular da árvore e a qualidade da madeira. Com a desencarrascadeira, começavam por retirar a casca do tronco, aplicando depois as bicas, ou seja, as lâminas de escorrência de resina e o ácido que favorece a saída da seiva. Os púcaros, apoiados num prego, ficam a aguardar que a descida da matéria-prima, que é depois recolhida e enviada para transformação industrial ao longo dos meses de trabalho. Os dias passados no pinhal implicavam calcorrear quilómetros, entre trilhos muitas vezes desnivelados.

Como nos mostram os habitantes das aldeias de Alva e de Souto de Alva, nesta representação captada em Mosteirô, as mulheres têm também um papel preponderante, de rodilha à cabeça, sempre prontas a transportar a masseira, a bilha da água e a trazer o mata-bicho. Uma malga de caldo, uma côdea de broa, batatas à racha e uma sardinha ajudavam a compor o estômago nas longas jornadas, do nascer ao pôr-do-sol, em que não faltavam os apupos e as canções. Neste caso, podemos ouvir Benilde Carneiro, Alzira Fernandes, Guilhermina Fernandes, Benedita Ferreira e Maria Cândida.

[Resineiro engraçado
Engraçado no falar
Ó I ó ai, eu hei-de ir à terra dele
ÓI ó ai, se ele me lá quiser levar
Já tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão
Já tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão
Ó I Ó ai, p’ra escrever ao resineiro
Ó I Ó ai, que trago no coração.]

Captação vídeo de Nely Ferreira (Binaural Nodar)
Captação sonora de Sandra Silva (Biblioteca Municipal de Castro Daire)
Texto de Andreia Mota (Binaural Nodar)