Project Description

 

 

Desde sempre que as civilizações rurais se estabelecem, enquanto condição para o seu desenvolvimento, perto de fontes de água pura, as quais são necessárias para uso agrícola, consumo humano e animal, para a ativação de estruturas de produção de energia hidráulica (moinhos, pisões, noras, represas, etc.) e para usos higiénicos, como é o de lavar a roupa do corpo e da cama.

A lavagem da roupa sempre se efetuou em muitos tipos de espaços, desde logo nos próprios rios e ribeiros, aproveitando as margens para a secagem, mas também fontes, lagos, e saídas das águas dos moinhos, sendo que com o lento desenvolvimento tecnológico no mundo rural, foram-se construindo, quase sempre por iniciativa das comunidades, estruturas de captação e de canalização da água desde as nascentes, as quais aproveitam e orientam as inclinações naturais para levar a água às aldeias e aos campos. Estas estruturas hidráulicas, incluem na maioria das vezes lavadouros comunitários, em alguns casos fazendo parte de uma sequência em linha horizontal de três valências: a fonte, o bebedouro e o lavadouro, a qual existe por razões de necessidade de pureza gradual da água, para consumo humano, para consumo animal e para a lavagem de roupa.

A aldeia de Fráguas é um ótimo exemplo deste tipo de estruturas de engenharia hidráulica de cariz rural, uma vez que é uma terra com baixas inclinações geomorfológicas (o planalto beirão começa bem perto da aldeia, onde se nota perfeitamente o lento desfazer das grandes inclinações da serra de Montemuro), sendo que a água vai passando, desde a nascente, pelo meio da intrincada malha das ruas e ruelas, com lavadouros, fontes e bebedouros existentes em vários pontos, até chegar, mais abaixo, aos campos da aldeia bem juntos às margens do rio Paiva.

Durante as sessões do projeto Aldeias Sonoras realizadas na aldeia de Fráguas (concelho de Vila Nova de Paiva), foi gravado o som do correr da água de saída de uma dessas estruturas mistas, neste caso de uma fonte e lavadouro comunitário (existe naturalmente uma entrada e uma saída da água, a qual se vai renovando gradualmente). Esta construção é particularmente interessante por estar literalmente encravada no granito, um exemplo da excelência e engenho dos pedreiros locais que construíram as casas, muros, canais de rega e demais estruturas de pedra.

Gravado em 20 de maio de 2010 pela jovem Cidália Ferreira com um gravador Edirol R-44 e um microfone parabólico Tellinga PRO 7. Editado por Luís Costa.