Documento integrado no projeto “O espírito da colmeia”, um projeto artístico de Manuela Barile que partiu de uma investigação etnográfica sobre a apicultura na aldeia de Várzea de Calde. Sendo o mel usado como alimento desde os alvores da civilização, foi interessante perceber como uma comunidade situada num contexto ambiental de grande diversidade ao nível da flora autóctone se especializou ao longo dos tempos na produção de produtos derivados da criação racional de abelhas (várias subespécies de Apis mellifera) como o pólen apícola, o própolis, a cera e o próprio mel.
José Joaquim Gaspar da Costa, nasceu a 02 de Janeiro de 1936 no Lugar de Várzea de Calde, freguesia de Calde, concelho de Viseu. Apesar de já ser reformado da sua atividade principal de Primeiro Sargento da Guarda Nacional Republicana, pratica atualmente a apicultura enquanto complemento à agricultura que realiza habitualmente. O gosto pela apicultura acompanha-o desde a sua infância. Recorda que já em criança, quando trabalhou em casa de uma das suas tias, esta tinha muitas abelhas: “tinha grandes apiários, duzentos, quatrocentos, mas eram cortiços”.
Joaquim Gaspar, como é habitualmente conhecido, evidenciou alguns dos aspetos pelos quais as abelhas são importantes que vão além da produção do mel: “dá para muita coisa, dão-nos a própolis, a cera, como sabe que produz, dá-nos, portanto, as transumâncias para os pomares, para a polinização (…). A abelha é rica para tudo (…)”.
Falou-nos igualmente das grandes ameaças que atualmente as abelhas enfrentam. Entre os seus principais predadores, destaca-se “a vespa velutina, que é uma destruidora da própria colmeia, da própria abelha natural”. Refere que se não houver pessoas especializadas que se dediquem à destruição dos ninhos deste tipo de vespas, “qualquer dia estamos sem abelhas”.
A predominância floral na sua aldeia afirma ser sobretudo de urze, matoeira, sargaço, flores rasteiras/daninhas, silvas, castanheiro, carvalho, morgariça, entre outras. “A abelha vai buscar o mel a muita flor”. Descreve ainda os vários tipos de colmeias e em que áreas é mais aconselhável a sua utilização, assim como por quantos quadros são habitualmente constituídas.
Durante a conversa, Joaquim Gaspar enumera ainda as várias fases pelas quais toda a colmeia passa ao longo de um ano, até a produção final de mel.
Entrevista realizada por Manuela Barile em 2 de fevereiro de 2018.