Documento integrado no projeto “O espírito da colmeia”, um projeto artístico de Manuela Barile que partiu de uma investigação etnográfica sobre a apicultura na aldeia de Várzea de Calde. Sendo o mel usado como alimento desde os alvores da civilização, foi interessante perceber como uma comunidade situada num contexto ambiental de grande diversidade ao nível da flora autóctone se especializou ao longo dos tempos na produção de produtos derivados da criação racional de abelhas (várias subespécies de Apis mellifera) como o pólen apícola, o própolis, a cera e o próprio mel.
O processo de extração do mel requer uma série de procedimentos e cuidados a ter. Todo este processo foi seguido, exemplificado e descrito por Joaquim Gaspar e Hernâni Maurício, dois dos apicultores da aldeia de Várzea de Calde.
A extração do mel deste ano de Joaquim e Hernâni contou com a ajuda da Dona Angelina que já realiza este processo há muitos anos. Com o auxílio de uma faca, esta começa por desopercular, ou seja, por retirar a cera que está a tapar o mel feito pelas abelhas. Esta cera cai para uma “tina” e, por ainda conter algum mel, será espremida à posteriori.
Após todos os quadros terem sido desoperculados, os mesmos inseridos numa máquina denominada de centrifugadora a qual, atingindo uma determinada velocidade, retira o mel dos quadros. Todo este processo deve, segundo Hernâni Maurício, ser efetuado em dias de maior calor de maneira a facilitar não só o trabalho do apicultor, assim como evitar que fiquem vestígios de cera no mel extraído.
Com o auxílio de Hernâni Maurício, Joaquim Gaspar coloca os quadros na centrifugadora manual, numa determinada posição, para que com o auxílio da velocidade atingida pelo girar de uma manivela que a máquina dispõe, o mel seja extraído.
O mel cai primeiramente para dentro um balde. No entanto, assim que este estiver cheio, deve ser vertido para dentro de um bidão maior. Apesar de o primeiro balde já conter um “crivo” para o mel ser coado, ao ser vertido para o bidão, passa novamente por um processo similar. Hernâni Maurício afirma que o mel é coado por várias vezes, uma última com um “crivo” mais “fininho onde ficam as partículas da cera todas agarradas”. Refere ainda que o mel, à semelhança do que acontece com o vinho, fermenta após ficar dia e meio dentro do bidão, fazendo com que as partículas mais “fininhas” venham ao de cima e sejam retiradas antes do mel ser enfrascado.
Gravação efetuada por Manuela Barile em 2 de fevereiro 2018.