Várzea de Calde, primavera de 2019. Registo sonoro integrado numa série de gravações realizadas para o projeto Viseu Rural 2.0 e para o Arquivo da Memória de Várzea de Calde, cujo tema principal são diversos usos e conhecimentos sobre plantas: medicina, culinária, construção de ferramentas, rituais, jogos, etc.
Este registo aborda alguns usos simbólicos de plantas, através dos quais se busca a sua presença ou intermediação com uma entidade sagrada ou face às forças da natureza. Herculano Gonçalves explica o que se costumava fazer num momento especial para os crentes católicos, o Domingo de Ramos: poucos dias depois de realizada esta entrevista, algumas pessoas desta e de muitas aldeias portuguesas, levariam à igreja um ramo composto por oliveira, louro e alecrim para benzer e guardar.
No contexto geral da celebração, apenas se explica aqui aquilo que concerne ao ramos e o que se podia fazer posteriormente com os seus componentes vegetais. Por exemplo, o alecrim, podia ser de muita ajuda quando havia trovoadas, sendo colocado em cima da ladeira acesa, com uma tampa por cima para que não ardesse e para que não largasse fumo. Antigamente rezava-se assim, recorda Herculano Gonçalves:
Santa Bárbara bendita,
que no céu está escrita,
entre os caules de água benta,
Senhor livrai-nos desta tormenta.
Por outro lado, há muitos anos atrás, havia uma senhora que sabia e realizava uma reza para curar o que Herculano Gonçalves descreve como umas “bolinhas” que saiam no corpo dos meninos, a qual se revelava eficaz ao cabo de poucos dias. Em tempos de necessidade, havia várias pessoas que podiam ajudar no restabelecimento da saúde dos doentes. Por exemplo, o Ti Aires de Vila Meã (Freguesia de Moledo, concelho de Castro Daire) era um “conhecedor” ou um “entendido” pois ia “ao pé do doente” e depois de uma observação in situ, podia receitar tanto a ingestão de plantas como de compostos que se encontravam na farmácia.
Entrevista de Ana Rodríguez com Herculano Duarte Gonçalves (n. 1941).